Há uma semana a pequena cidade de Cabeceiras de Goiás, com cerca de 8 mil habitantes, foi abalada por um escândalo nacional na área da saúde, envolvendo a fraude em cartão de vacinação.
Desde então, a cidade e os envolvidos no esquema têm sido destaque de notícias em telejornais, rádios, portais de notícias, redes sociais e, também, em grupos de WhatsApp da cidade.
Operação da PF apura fraudes em vacinação
▪️ O esquema veio à tona na última semana, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Venire, que investiga a inserção de informações falsas no sistema do Ministério da Saúde. Desde então, novas evidências vêm surgindo.
▪️ Segundo a investigação da PF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, teria montado o esquema para fraudar cartões de vacinação de pessoas que não teriam se vacinado.
▪️ Uma dessas pessoas seria a própria esposa de Mauro Cid. Informações apontam que foram inseridos dados de lotes de vacina de Cabeceiras, mas houve problemas no sistema, porque o cartão de vacinação era de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
▪️ Os dados foram retirados da vacinação de uma enfermeira na unidade de Saúde de Cabeceiras. Prints mostram que os envolvidos estavam ‘cientes’ da divergência das informações.
▪️ Uma nova tentativa foi feita, desta vez com cartões em branco. Em seguida, os dados foram apagados do sistema.
▪️ Posteriormente, o processo teria sido replicado para fraudar cartões de vacina para Jair Bolsonaro, sua filha, Laura, filhas de Mauro Cid e outros acompanhantes de Bolsonaro em viagem aos Estados Unidos.
Enfermeiras vítimas do esquema
▪️ As enfermeiras que tiveram seus nomes colocados no cartão de vacina negam que tenham envolvimento na fraude. Uma delas sequer conhecia o médico acusado de participação no esquema.
▪️ Dzirrê, que trabalha na coordenação da Unidade Básica de Saúde 3 na cidade, afirma conhecia o médico pois trabalhou com ele em dois plantões, mas na época que aconteceram as fraudes eles não trabalhavam no mesmo local.
▪️ Ela atuava em um posto de saúde onde aconteciam as vacinações contra a covid-19, no entanto, não era a responsável por aplicar os imunizantes. O médico, segundo a prefeitura da cidade, trabalhava como clínico geral no hospital da cidade.
“Selecionaram uma unidade de saúde para fazer as vacinas de Covid e era a que eu trabalhava. Eu sempre fui enfermeira coordenadora, não aplico vacinas”, enfatizou.
▪️ A outra enfermeira, Edynez, que teve seu nome colocado no cartão da esposa de Mauro Cid, não conhecia o médico. Ela, inclusive, teve seu nome escrito errado no cartão: ‘Edniz’.
Print mostra médico alvo da PF pedindo cartão de vacina em branco
▪️ Apesar de não ter contato com o médico acusado de envolvimento, Dzirrê conta que ele chegou a pedir um cartão de vacinação em branco para ela.
▪️ Um print mostra a conversa e o momento que ela prontamente responde sobre os cartões: ‘estamos sem’.
“Consegue um cartão de vacina em branco pra mim”, pediu à enfermeira.
▪️ Após o pedido, a enfermeira conta que o médico não falou mais com ela e também não informou o motivo de ter solicitado o cartão em branco.
▪️ O médico é sobrinho de um sargento do Exército que integrou a equipe de Mauro Cid, preso durante a operação da PF.
▪️ Até o fechamento desta reportagem, o Portal Dia não localizou a defesa do médico.
Comissão de apuração
▪️ A Prefeitura de Cabeceiras criou uma comissão para apurar os casos e já começou a ouvir profissionais de saúde do município. O objetivo é descobrir se realmente houve fraude e se o médico agiu sozinho.
▪️ Além disso, também serão investigados uma série de ‘furos’ no cartão usado na suposta fraude, como o nome das enfermeiras escrito errado, a letra não ser compatível com as das profissionais e o lote diferente ao que foi enviado para a cidade.