Desde que a pandemia de covid-19 começou em 11 de março de 2020, várias estratégias foram testadas para conter o coronavírus. As mutações deram maior capacidade de transmissão e moldaram altos e baixos, criando ondas, picos e momentos de relaxamento e tranquilidade.
Nos últimos três anos, o coronavírus já causou 759 milhões de casos de covid-19 e 6,8 milhões de mortes em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora 65% da população mundial esteja vacinada com duas doses e 30% com doses de reforço, esses percentuais escondem desigualdades. Menos de 30% da população da África recebeu duas doses da vacina.
No Brasil, os óbitos se aproximam de 700 mil em um universo de 37 milhões de casos já diagnosticados. Embora a pandemia não cause mais o colapso das unidades de saúde, ainda são registradas vítimas, com 330 mortes apenas na última semana epidemiológica, segundo dados do DataSUS. Portanto, é necessário prestar atenção à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento da doença.
Em relação à vacinação, o Brasil possui uma cobertura acima da média do mundo e das Américas. De acordo com o painel Monitora Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 82% da população tem o esquema primário completo e 58% receberam ao menos uma dose de reforço.
A maior parte dessas doses aplicadas é de vacinas de terceira geração, com as tecnologias de vetor viral e RNA mensageiro, inovações postas em prática em massa pela primeira vez com a pandemia de covid-19 e acrescentadas ao arsenal da ciência contra futuras ameaças de saúde pública.
Três momentos da pandemia de covid-19
O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, destaca que há muitas formas de dividir a história da pandemia. Primeiramente, a falta de vacina em 2020 e a vacinação lenta em 2021 levaram a um alto número de mortes e demanda por leitos hospitalares.
No segundo semestre de 2021, a vacinação avançou e houve uma mudança na gravidade da doença, com redução na mortalidade e impacto hospitalar. As mudanças do próprio vírus, com as variantes Gamma, Delta e Ômicron, também moldaram a história da pandemia, além do aumento da acessibilidade aos testes.
A partir do final de 2022 e início de 2023, houve a possibilidade de incorporação de medicamentos ao SUS para tratar casos com pior resposta à vacina. O conhecimento sobre o vírus e o tratamento clínico também evoluiu, com a descoberta de como manejar a falta de oxigenação no sangue e a caracterização da covid-19 como doença com quadros mais amplos, como cardiovasculares, risco de trombose e covid longa.
O desenvolvimento rápido da ciência no combate ao vírus
A chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Marilda Siqueira, destaca que a colaboração de cientistas de diferentes áreas se deu de forma acelerada durante a pandemia, e esse foi um fator fundamental ao longo da emergência sanitária.
Além disso, o laboratório chefiado pela virologista foi referência da OMS no continente americano e também participou do desenvolvimento de testes diagnósticos em tempo recorde.
De acordo com Marilda, o laboratório Bio-Manguinhos conseguiu produzir um kit de diagnóstico PCR para o SARS-CoV-2 em menos de um mês, em colaboração com um laboratório em Berlim, após a OMS identificar o vírus como um coronavírus. Com coordenação do Ministério da Saúde, todos os laboratórios centrais de Saúde Pública do Brasil foram treinados e tinham um kit para diagnóstico em 18 de março, algo que poucos países conseguiram.
Da mesma forma que os testes, a pesquisadora explica que as vacinas também foram fruto de investimentos e esforços cumulativos. Isso desmonta a falácia de que foram produzidas “rápido demais”. Além disso, ela destaca que o uso dessas ferramentas que a humanidade vem desenvolvendo foram pontos cruciais para diminuir o impacto da pandemia em um ano.
No entanto, a cientista menciona que se a introdução do coronavírus tivesse sido há um século, como aconteceu com a gripe espanhola, teria sido arrasador, porque as ferramentas não estavam naquele momento prontas como estavam neste momento, em 2020.