Neste domingo (20), o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, que faz referência à morte de Zumbi, líder do quilombo de Palmares, conhecido como o maior quilombo da história do Brasil. Palmares ficava situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil.
Zumbi dos Palmares foi um guerreiro negro que ficou conhecido como um símbolo de resistência e luta dos africanos contra a escravização no Brasil Colônia. Ele foi morto no dia 20 de novembro de 1695 à mando dos portugueses que contrataram bandeirantes para fazerem o serviço.
O líder do quilombo não admitia a dominação dos brancos sobre os negros e sempre teve uma postura de enfrentamento diante do governo da época. Com muita dificuldade, conseguiram capturar Zumbi e decaptá-lo.
A sua importância para o movimento negro é lembrada até hoje como símbolo de batalha pela liberdade da comunidade negra no Brasil.
A discriminação em expressões racistas
No dia da consciência negra o colaborador da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) Wemerson Wilson Lindolfo, de 43 anos, mais conhecido como Bocão, falou sobre a discriminação em expressões racistas.
De acordo com ele, há cerca de dois anos foi alvo de discriminação por parte de um morador do Jardim Colorado, quando trabalhava como coletor de lixo.
“Um senhor queria que eu pegasse um monte de papel solto e picado na lixeira. Falei educadamente para ele colocar tudo numa sacola para recolhermos depois. Ele ficou nervoso e respondeu que “tinha que ser preto mesmo para fazer um serviço desse”, relembra. O trabalhador conta que, apesar da indignação, não perdeu a calma diante do ocorrido.
Ciente do racismo que havia sofrido, Bocão diz que não se ofendeu e perdoou seu agressor. Segundo ele, quando o chamam de negro se sente elogiado e orgulhoso. “Serviço de preto, pra mim, é serviço bem feito, porque procuro fazer o melhor possível.”, destaca.
Além dele, seu filho já encarou situação de discriminação na escola por ter um pai negro e que trabalha com a coleta de lixo.
“O meu filho Kauan era pequenininho e um coleguinha na escola tentou ofender ele dizendo que o pai dele era lixeiro. O Kauan respondeu: ‘É, meu pai é lixeiro, ele deixa a cidade limpinha. Já pensou como seria a vida do seu pai se não fosse o meu?”.
Bocão se diz orgulhoso da resposta do filho e conta que a professora ficou admirada com a postura do pequeno Kauan diante da discriminação.
Ainda segundo o motorista da Comurg, as expressões “serviço de preto”, como também a associação do trabalho de lixeiro à comunidade negra vem da infância, por influência do que se vê dentro de casa.
“Tudo o que os pais falam, as crianças passam adiante e muitos pais são preconceituosos sem perceber. Precisamos quebrar esse ciclo”, explica Bocão.
Situações como as vivida por Bocão e o pequeno Kauan representam o racismo estrutural enraizado na sociedade brasileira, que está bem familiarizada com frases e atitudes de cunho racista e preconceituoso.
No Dia da Consciência Negra, o mais importante é entender que o racismo estrutural forma uma teia de violências que afeta jovens, homens e mulheres negras pelo Brasil, acabando por construir as relações sociais que estabelecemos.