Novas análises desenvolvidas na Universidade Federal de Goiás (UFG), para avaliar a ação do novo coronavírus no corpo humano, conseguiram identificar novas informações sobre a atividade imunológica e metabólica dos pacientes diagnosticados com a covid-19. As novas descobertas podem ajudar para o entendimento de como age a doença e para a formulação de estratégias de tratamento. O estudo foi publicado nesta quarta-feira (29/7).
Os pesquisadores do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da UFG, liderados pelo professor Luiz Gustavo Gardinassi, descobriram que um indivíduo infectado pelo vírus SARS-CoV-2 apresenta uma considerável redução das células de defesa no organismo, que são importantes para o combate de infecções virais, como os linfócitos T e as células matadoras naturais, NK.
O estudo mostra ainda que alguns pacientes não conseguem ativar respostas antivirais, como a produção de interferons do tipo 1, que são capazes de evitar a replicação do vírus. As novas descobertas podem contribuir para o entendimento de como age a doença e para a formulação de estratégias de tratamento.
Também foi observado o aumento de outras células do sistema imune, como os monócitos, plasmócitos e células dendríticas. “Então, a gente percebe um desbalanço na circulação de células do sistema imune”, completou o professor. Agora, são coletadas amostras dos pacientes para investigar as vias metabólicas alteradas, identificadas pelos dados computacionais.
Professor da UFG:”Conseguimos novas informações sobre a resposta imune do corpo humano durante a covid-19″
De acordo com o coordenador da pesquisa, essa nova pesquisa é mais sensível, uma vez que foi aplicada à tecnologia de alto rendimento de dados, conhecida como tecnologia ômica, e permitiu o avanço dos estudos anteriores que se basearam na ferramenta transcriptômica. “Nós revisamos os dados de estudos já realizados com uma outra estratégia de análise e, com isso, conseguimos novas informações sobre a resposta imune do corpo humano durante a covid-19”, explicou Luiz Gustavo.
A pesquisa ainda comparou pacientes infectados por SARS-CoV-2 com os de outras doenças respiratórias, como a SARS-CoV-1 e a Influenza (vírus da gripe). Os pesquisadores constataram que as respostas do sistema imune das doenças respiratórias avaliadas são semelhantes, mas há uma diferença fundamental: Enquanto os indivíduos com SARS-CoV-1 ou com Influenza conseguem ativar os genes envolvidos em respostas antivirais, como os interferons do tipo 1, que são moléculas produzidas pelas células de defesa, alguns pacientes com covid-19 não são capazes de ativar essa resposta antiviral.
“Portanto, esses dados sugerem que existe uma falha na produção ou sinalização dessas moléculas, em células brancas, dos pacientes com coronavírus. Ou seja, sugere que o indivíduo apresenta ‘um defeito’ no desenvolvimento das respostas de combate ao vírus e isso pode estar relacionado com a gravidade da doença”, analisou Gardinassi.
Hipóteses de tratamento contra a covid-19
Os resultados do estudo realizado pela UFG fortalecem hipóteses de tratamento, assim como permitem que novas perguntas sejam feitas. “Se o indivíduo, em estágio inicial, não tem ou é atrasado, ou mesmo o vírus suprime esses interferons, ele não consegue controlar a replicação do vírus, que começa a tomar conta. E já tem alguns ensaios clínicos no mundo que utilizam os interferons no estágio inicial para levar a menor gravidade da doença. Os nossos resultados fortalecem essa hipótese”, afirmou o pesquisador.
O estudo também avaliou a atividade metabólica dos pacientes com covid-19, associada ao processo inflamatório e identificou algumas vias metabólicas, entre elas, o ciclo de Krebs, oxidação fosforilativa, glicólise, metabolismo de triptofano, biossínteses de heme, que, segundo o pesquisador, podem servir de alvos de combate à doença.
Segundo o professor Luiz Gardinassi, as vias metabólicas estão envolvidas na manutenção da energia e função das células brancas ativadas pelo organismo e, portanto, podem ser alvos terapêuticos. “Os estudos anteriores não avaliaram a atividade metabólica. O nosso estudo levanta novas perguntas inclusive em relação a novos alvos terapêuticos. A gente acredita que as pesquisas, daqui pra frente, podem se beneficiar dos nossos resultados, no sentido de encontrar uma estratégia de análise dos dados robusta, mas principalmente direciona o desenvolvimento de novas estratégias de tratamento”.
A pesquisa foi publicada na íntegra na revista Frontiers in Immunology. Acesse aqui.
*Com informações da UFG