O Senado americano iniciou nesta quinta-feira, 16, o terceiro julgamento de um presidente na história dos EUA. O dia foi marcado por cerimônias solenes, com a leitura das acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso contra Donald Trump e a assinatura dos senadores, que oficializaram a abertura do processo.
As acusações, apresentadas em dezembro pelos deputados, estão relacionadas à pressão que a Casa Branca fez sobre o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, para ele investigasse o democrata Joe Biden – que lidera a maioria das pesquisas na disputa presidencial de novembro e seria a principal ameaça à reeleição de Trump.
Passava do meio-dia na capital americana (pouco depois das 14h, em Brasília), quando os sete deputados democratas, escolhidos para atuarem como promotores, entraram no Senado, liderados por Adam Schiff, presidente da Comissão de Inteligência da Câmara.
Em seguida, Schiff leu as nove páginas de acusações contra Trump. “O presidente merece o impeachment, o julgamento e a destituição do cargo”, disse. Após a leitura, a sessão foi suspensa por duas horas, até a chegada do presidente da Suprema Corte, John Roberts, que chefiará o processo no Senado.
Ao lado de quatro senadores – dois republicanos e dois democratas -, Robert fez um juramento que só foi prestado duas vezes antes: no impeachment de Andrew Johnson, em 1868, e no de Bill Clinton, em 1999 – ambos foram absolvidos, o mesmo resultado que se espera agora, no processo contra Trump.
Para destituir um presidente americano são necessários dois terços do Senado – 67 votos. Como os republicanos têm uma maioria de 53 senadores, Trump precisaria perder o apoio de 20 aliados, o que é considerado improvável.
Cumprido todo o ritual solene, a sessão foi definitivamente encerrada e o Senado entrou em recesso até terça-feira, quando o julgamento do impeachment será retomado – segunda-feira é Dia de Martin Luther King, feriado nacional nos EUA.
Apesar de o roteiro parecer escrito, novas informações podem surgir pelo caminho. Ontem, o Government Accountability Office (GAO), espécie de Tribunal de Contas da União do governo federal americano, publicou um relatório afirmando que Trump violou a lei ao bloquear quase US$ 400 milhões de ajuda militar à Ucrânia “por motivos políticos” – a liberação do dinheiro seria uma das ferramentas usadas para pressionar os ucranianos a investigar Biden.
Quase ao mesmo tempo, Trump sofria outro golpe, desta vez do empresário ucraniano Lev Parnas, velho colaborador de Rudy Giuliani, advogado do presidente, que participou da pressão para investigar Biden. Parnas afirmou que Trump sabia de tudo. “Ele estava ciente de todos os meus movimentos”, disse em entrevista à emissora MSNBC e ao jornal New York Times.
Parnas foi preso em outubro, no Aeroporto Internacional de Dulles, em Washington. Ele foi acusado de arrecadar fundos estrangeiros para campanhas políticas nos EUA. Depois que virou delator, ele forneceu aos deputados documentos que comprovam as ações do presidente americano, incluindo uma carta de Trump solicitando a Zelenski a investigação de Biden.
Alguns senadores republicanos até se dizem dispostos a julgar o presidente, convocar testemunhas e aceitar documentos: Susan Collins (Maine), Mitt Romney (Utah), Lisa Murkowski (Alasca) e Lamar Alexander (Tennessee). Os quatro são considerados moderados e podem causar certo constrangimento à Casa Branca, mas sozinhos são incapazes de virar o jogo para os democratas. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.