O ar em Goiás está ficando mais quente. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em conjunto com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que tomou como base o período de 34 anos, apontou uma tendência de aumento da temperatura do ar no estado. O estudo recente se baseou na temperatura média diária de uma série histórica que abarca do ano de 1980 ao ano de 2014 em cada uma das 75 estações climáticas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) espalhadas por Goiás.
O método utilizado no estudo leva à formulação de uma expressão matemática cujo cálculo possibilita a obtenção do coeficiente angular, um resultado que deixa em evidência as tendências de alterações. Conforme os resultados obtidos, das 75 estações climáticas que integraram a pesquisa, 57 apresentaram valores positivos para os coeficientes angulares em questão. Isso significa que a temperatura média do ar em Goiás tende a crescer ao longo dos anos e que esse movimento deve ser mantido, tendo como base o período de 34 anos de dados avaliados pelo estudo.
Ao fragmentar os dados de temperatura média do ar pelas duas principais épocas de cultivo em Goiás (a primeira entre abril e setembro (época da seca), período dos cultivos sob irrigação; e a segunda de outubro a março, período das chuvas de primavera e do verão (época das águas), o coeficiente angular aumentou para 68 das 75 estações consultadas, confirmando a tendência de aumento da temperatura média do ar e sinalizando para a possibilidade de um futuro que possa impactar culturas de relevância econômica para o Estado de Goiás, como algodão, cana, feijão, milho, soja, sorgo e tomate.
A temperatura do ar é um dos principais elementos climáticos condicionantes para a produção vegetal, pois influencia no metabolismo e no ciclo das plantas, no uso da água, e pode ocasionar danos à produção. De acordo com um dos coordenadores do trabalho sobre a tendência de aumento da temperatura média do ar no Estado de Goiás, o pesquisador da Embrapa Alexandre Bryan Heinemann, “uma elevação de 1ºC ou 2ºC poderá alterar o regime de precipitação, intensificando a ocorrência de secas em determinadas regiões e enchentes em outras. Isso dificultará a programação das safras e a previsibilidade dos cultivos”. Conforme o pesquisador, o aumento da temperatura também altera a distribuição de doenças e pragas nas regiões produtoras, aumentando riscos de perdas na produção
Porém, apesar do alerta, o estudo que foi conduzido não permite afirmar que a tendência de aumento da temperatura média do ar se configura em mudança climática. Para tanto, seria necessária maior base histórica de dados climáticos, o que não foi possível fazer, pois a organização sistemática dessas informações começou a ser elaborada só a partir de 1980.
Tendência de aumento da temperatura do ar em Goiás conta com diversos fatores de influência
Ainda conforme Heinemann, o resultado alcançado pelo estudo pode ser atribuído a vários fatores. “Há o efeito da urbanização, o aumento da emissão de gases de efeito estufa, as queimadas de matas e florestas e o desmatamento, além de causas naturais”, disse.
O pesquisador considera também que a tendência de elevação da temperatura média do ar depende muito de como as pessoas irão atuar para mitigá-la ou, ao contrário, intensificá-la.
Os dados climáticos utilizados no estudo são provenientes de 75 estações climáticas do Inmet, localizadas no estado de Goiás (ver mapa). Segundo a Organização Meteorológica Mundial (WMO, sigla em inglês), agência especializada da Organização das Nações Unidas, para uma análise de séries históricas de dados climáticos, há a necessidade de pelo menos 30 anos de observações, requisito que foi cumprido no estudo.