A visão de que Bolsa de Valores e investimentos são coisas de outro mundo vem mudando bastante. Em outubro de 2019, por exemplo, a Bolsa brasileira, B3, atingiu o marco histórico de 1,5 milhão de pessoas físicas ativas.
De acordo com a própria B3, o número representa uma alta de 95% no ano, e de 6,5% no mês. Em 2018, na mesma época, a Bolsa contava apenas com 813 mil investidores ativos.
E, como o assunto tem se tornado cada vez mais popular, a forma mais simples de se conseguir informações sobre o tema é a internet. No Youtube, por exemplo, o empresário goiano – e agora youtuber -, Raul Sena, vem ganhando seguidores ao, literalmente, traduzir a Bolsa para quem não tem intimidade com investimentos.
Com apenas 26 anos, Raul usa uma linguagem jovem para falar sobre o assunto e alertar sobre os riscos das operações. Ele ainda mostra a carteira e suas tomadas de decisões de forma pública.
“A ideia do canal surgiu para conversar sem a linguagem formal com os novos investidores que estão chegando diariamente na Bolsa de Valores”, explica. Além disso, no canal, mostro a rentabilidade e também as perdas, explicando que não existe renda garantida na bolsa de valores, e que as operações estão sujeitas ao risco de 100% de perda do capital investido”, explica.
Sardinhas e tubarões
Aliás, a escolha do nome do canal, Investidor Sardinha, tem muito a ver com essa cultura de novos pequenos investidores que chegam à B3 todos os dias.
Isso porque, na linguagem do mercado, “sardinha” diz respeito a quem não tem experiência no mundo dos investimentos e acaba seguindo o movimento da massa. Ou seja, investe seguindo apenas conselhos e não sabe bem o que está fazendo.
Inclusive, os sardinhas, não raro, acabam virando comida de “tubarões”. Este, que também é um jargão da economia, se refere aos grandes investidores e fundos. Aqueles que aportam quantidades milionárias em vários tipos de investimentos, e sabem exatamente os motivos pelos quais estão escolhendo cada um deles.
Bolsa de valores sem tabus
De acordo com Raul, a ideia é desmistificar a concepção que muita gente ainda tem da Renda Variável. Afinal, com a taxa básica de juros, a Selic, a 4,5% ao ano, investimentos em Renda Fixa e Tesouro Direto não são mais tão rentáveis quanto há alguns anos.
“A ideia é justamente acompanhar os investidores iniciantes nos futuros momentos de crise e mostrar que não existem motivos para desespero. A bolsa de valores oscila mesmo”, pontua o youtuber.
O próprio empresário conta que já teve inúmeras experiências ruins com Renda Variável. No próprio canal, aliás, existem vídeos que narram as histórias fatídicas e as cifras altas perdidas em operações mais arriscadas há alguns anos, quando ele também era um sardinha.
Ou seja, até realmente entender o mercado e como os investimentos funcionam, ele também perdeu muito dinheiro. Apesar disso, ele garante que a ideia não é convencer ninguém a fazer Day Trade, algo que é realmente bastante volúvel. O objetivo, como ressalta, é mostrar como ações, por exemplo; podem ser aplicações rentáveis em longo prazo.
E, para quem não tem ideia de como o investimento em ações funciona, Raul explica que elas se tratam da menor fração de uma empresa. “Quando investimentos em ações, estamos comprando a participação em um negócio. Grandes bancos, como Itaú e Bradesco, por exemplo; estão disponíveis na Bolsa, é possível comprar uma pequena parte deles e se tornar sócio do negócio”.
Rentabilidade de 40% ao ano
Ao que tudo indica, o jeito descontraído de Raul Sena tem funcionado. O canal Investidor Sardinha tem apenas quatro meses e já ultrapassou os 10 mil inscritos. Ao todo, seus vídeos já contam com mais de 300 mil visualizações (até a data de fechamento da matéria).
A carteira de investimentos que Raul monta em frente às câmeras, com certeza, é a cereja do bolo. Suas escolhas – embasadas nos movimentos do mercado e no estudo de cada empresa – apresentaram rentabilidade de 40,05%, de julho a dezembro.
No entanto, youtuber diz que, apesar de saltar aos olhos, essa rentabilidade está exposta em ativos de alto risco, como empresas com alto endividamento e empresas com baixa captação na Bolsa, chamadas de small caps. Ademais, tudo isso, está baseado em um período de “bull market”, onde todos os investimentos em renda variável estão subindo consideravelmente.
Aliás,, a carteira do Investidor Sardinha não é composta só por ações. Nela, estão ainda Fundos Imobiliários, Tesouro Direto, ações, criptomoedas e BDRs (Brazilian Deposit Receipts, ou seja, Recibos de ações de empresas estrangeiras negociadas na bolsa brasileira).
Atualmente, os investimentos na carteira do canal ultrapassam os R$ 200 mil. O aporte inicial de Raul Sena – exibido no primeiro vídeo, publicado em 23 de julho – foi de R$ 42 mil. De lá para cá, seus aportes são quinzenais, e variam de R$ 5 mil a R$15 mil reais.
Apesar dos aportes altos, Raul defende que é possível começar a investir com menos de R$ 100 por mês. Porém, avisa, que isso, com certeza, não vai transformar ninguém em um milionário da noite para o dia. “O que importa são as escolhas, o sangue frio e a constância”.
Bolsa não é para todos
Apesar de traduzir a B3 no Youtube, e de incentivar as pessoas a colocarem o dinheiro para trabalhar por elas, Raul Sena defende que “a Bolsa de Valores, de forma direta, não é lugar para pessoas que não gostam de estudar sobre investimentos e de dedicar um tempo analisando empresas”.
Como ele sempre diz em seu canal, “renda variável, varia”, e não dá para prever até quando o “bull” vai continuar. Portanto, mais que aproveitar o momento para entrar nesse mundo, quem é novo precisa estudar e entender como os investimentos funcionam. “Não é um mercado de apostas. Por isso, é necessário se preparar para a crise, mesmo que ela não esteja à vista”, garante.
Raul aconselha ainda que investidores iniciantes fiquem longe da Bolsa enquanto estudam. O ideal, neste período de aprendizagem, é que essas pessoas prefiram investimentos em Renda Fixa, como os Certificados de Depósitos Bancários, os famosos CDBs; o Tesouro Direto e outras aplicações mais conservadoras.
“Os Fundos de investimento também são uma boa pedida para a fase inicial ou para quem não quer se arriscar a investir por conta própria”, explica. “Então, quando a pessoa estiver mais habituada e compreender os riscos envolvidos nas operações, pode ser um bom momento para começar devagar, e ir ganhando confiança e experiência com ações e outros investimentos mais arrojados”.