O historiador Fábio Santa Cruz é um dos raros expoentes da Universidade Estadual de Goiás que consegue enxergar a crise que assola a instituição e formular alternativas para a superação. Além de ser doutor em História pela UnB ele tem experiência administrativa suficiente para saber o que fazer e chegar ao tão sonhado ambiente de crescimento e manutenção da harmonia acadêmica, coisa execrada pelo antecessor, Haroldo Reimer.
O legado de atraso deixado por Reimer, um pregador luterano de ascendência germânica que recebeu o inevitável epíteto de “pastor alemão”, só será suplantado com a união das forças progressistas da UEG em torno de um projeto de academia pujante e que olhe pra frente, não atrelado a interesses políticos.
Em entrevista ao Dia OnLine Fábio Santa Cruz fala de seu histórico como diretor do Campus Formosa da UEG, da origem da crise e de propostas para superação.
Entrevista Fábio Santa Cruz
Dia OnLine – Como se explica essa crise da UEG?
Fábio Santa Cruz – Faltou enfrentar problemas graves da instituição. Um dia, esses problemas explodem, como nesse caso da demissão em massa dos servidores temporários. De repente, a maior parte da comunidade recebeu a informação sobre a fatídica decisão judicial. Mais da metade dos servidores perderão seus empregos antes de dezembro. É óbvio que a exclusão desses profissionais deveria ter sido feita de forma mais gradual, menos traumática.
Dia OnLine – A UEG discutiu, nos últimos meses, uma reestruturação interna, que foi chamada de Redesenho. Essa reestruturação será concluída nesse ano de 2019?
Fábio Santa Cruz – A rescisão de quase todos os contratos temporários da UEG até novembro provocará mudanças enormes. É uma reestruturação a fórceps. A mais traumática. A pior. Sou professor na Universidade Estadual de Goiás desde 2004 e a primeira vez que testemunhei um esforço de reestruturação foi em 2007. Não é um assunto novo. Todas as tentativas fracassaram porque é muito difícil encontrar um mínimo de consenso nesse debate. O que restará a fazer de 2020 em diante é promover correções e talvez compensações, se possível. Além disso, a Universidade precisará se planejar melhor para evitar outras crises no futuro.
Dia OnLine – Quais campus, em sua opinião, devem ser fechados?
Fábio Santa Cruz – Eu gostaria que todos os campus continuassem desenvolvendo suas atividades, porque são atividades educativas importantes e têm peso simbólico nos municípios. Mas sabemos que a situação é gravíssima.
Dia OnLine – A crise também afeta a autonomia da UEG?
Fabio Santa Cruz – Ampla autonomia sempre foi negada à UEG, embora seja garantida constitucionalmente. Agora temos um governo estadual pró-autonomia. Isso é importantíssimo. Pela primeira vez, a Universidade Foi colocada nesse patamar. É preciso consolidar esta nova condição.
Dia OnLine – Como os profissionais efetivos, docentes e técnicos, estão reagindo à crise?
Fábio Santa Cruz – O impacto é visível. O desestímulo é inevitável. Mas também há a perspectiva de que a UEG saia dessa turbulência deixando para trás seus piores vícios. Isso é interessante.
Dia OnLine – E os estudantes?
Fábio Santa Cruz – Igualmente. Já se mobilizaram e expressaram sua insatisfação em alguns campus e é provável que se manifestem de novo.
Dia OnLine – A UEG precisa realizar um novo concurso em breve?
Fábio Santa Cruz – A UEG precisa, acima de tudo, consolidar o seu quadro de profissionais. Isso talvez demande um novo concurso em breve, mas com certeza demanda uma política mais aguda de valorização de professores e técnicos. Devem ser prioridades: ampla oferta de dedicação exclusiva e garantia de progressão. Todos os meus colegas falam sobre isso com muito interesse.
Dia OnLine – Como lidar com a redução de verbas caso a Universidade perca a garantia de 2% da arrecadação estadual para o seu financiamento?
Fábio Santa Cruz – Acredito que, após o debate do tema, será definida uma solução equilibrada. Os 2% são importantes para a UEG. Isso está claro para todos.
Dia OnLine – Acha que teremos eleição para reitor este ano?
Fábio Santa Cruz – Se não tivermos, essa Universidade não poderá mais ser considerada uma instituição democrática. A opinião majoritária na UEG é a de que o processo eleitoral precisa ser realizado logo. Isso já está claro. Acredito que o pleito ocorrerá agora em setembro.