Dois homens acusados de matar e carbonizar uma mulher passaram por júri popular na manhã desta terça-feira (27/8). O julgamento durou mais de oito horas. Valdeci Manoel da Silva e Milton Mendes eram irmão e marido da vítima, respectivamente.
De acordo com as investigações, o crime foi motivado por ciúmes, pois o suspeito alegou que a mulher mantinha um relacionamento extraconjugal. O irmão da vítima teria incitado o marido a cometer o crime.
Milton Mendes foi condenado a 15 anos e 3 meses de detenção pelos crimes de homicídio qualificado. Já Valdeci, irmão da vítima, foi absolvido. O júri considerou que Valdeci não teve envolvimento com a atitude de Milton.
A sessão foi presidida pelo diretor do Foro de Serranópolis, juiz Luciano Henrique de Toledo, no Plenário da Câmara Municipal de Chapadão do Céu, distrito judiciário da comarca.
Durante o depoimento, a filha de Lindalva afirma que a última vez que viu a mãe foi quando elas saíram do lanche onde a mãe trabalhava, passaram na casa mãe, onde estava Milton sentado de cara fechada, de lá a mãe foi deixar a filha em casa. Elas teriam combinado uma viagem no outro dia cedo.
Durante as investigações, a filha acompanhou os peritos em revista na casa de Lindalva. Ela conta que encontrou uma calça suja de sangue dentro do banheiro, debaixo do chuveiro também haviam respingos de algo que parecia sangue. Na pia havia uma faca de serra sua de sangue.
Relação de Lindalva com o irmão e marido
Rafaela, filha da vítima, afirma que o companheiro da mãe, Milton Mendes, sempre foi agressivo com a mulher, principalmente de forma verbal. Ela contou que uma vez o marido teve que segurar Milton, que queria agredir a mulher após chegar bêbado em casa.
Ela ainda conclui que ele também era estressado com seus irmãos, inclusive já havia mandado o menor embora de casa várias vezes. “Ele batia nos meus irmãos com cinto, dizia que ia quebrar meus irmãos na porrada”, completou.
De acordo com Rafaela, a mãe já havia falado que não gostava mais de Milton e queria a separação, ela estaria inclusive conhecendo outra pessoa. “Milton traía ela e ela sabia, já discutiram por isso, mas ele sempre negava”.
Lindalva já teria até mandado o homem embora, mas ele se negava a sair de casa, disse que só sairia caso vendesse a residência.
Já com Valdeci a filha da vítima afirma que não tinha muito contato, pois achava uma pessoa “folgada”. “Minha mãe tinha que lavar roupa dele, dava as coisas pra ele, tinha que procurar serviço pra ele, tinha que praticamente carregar ele no colo”, afirmou.
No dia no crime Rafaela conta que chegou em casa e não viu Valdeci, ligou para o serviço e foi informada que ele não havia ido trabalhar naquele dia. Ela então contou o acontecido e desconfiou que o homem pudesse ter relação com o homicídio por sua reação. “Valdeci não esboçou nenhum sentimento, nenhuma lágrima, como se não tivesse acontecido nada.”
Em depoimento, Valdeci, irmão de Lindalva, afirma que a irmã o trouxe de Pernambuco para cuidar dele e ele não tinha motivos para fazer mal a ela. Ele também afirmou que é usuário de drogas.
Relação da vítima com Valdinei
Valdinei afirma que conheceu Lindalva há cerca de sete meses na lanchonete que ela trabalhava. Eles começavam a se relacionar cerca de 30 dias após se conhecerem. Valdinei afirma que ele e Lindalva estavam com planos de morar juntos em Goiânia, pois ela já não gostava mais de Milton, mas ele não ia embora de casa.
Em depoimento Valdinei afirma que Lindalva falava que ele deveria tomar cuidado, pois Milton era “bastante perigoso”.
Ele conta que mais cedo, antes do assassinato, Lindalva esteve em sua casa. Ele ligou pra ela por volta de 21h, mas o celular só dava na caixa postal.
Valdinei conta que no outro dia pela manhã encontrou Rafaela e perguntou por sua mãe, ela disse que não sabia e os dois foram procurar por notícias de Lindalva, foi quando souberam do carro com o corpo da mulher.
Atualmente, Valdinei mora em Jataí, conta que se mudou pois soube de terceiros que Milton havia o ameaçado de morte. Diante disso ele registrou um boletim de ocorrência e resolveu se mudar de Chapadão do Céu.
A defesa do irmão e marido
A defesa pediu a absolvição de Valdeci alegando que não há provas suficientes para a condenação.
De acordo com a defesa somente uma pessoa alegou ouvir que ouviu Valdeci dizer que Milton “poderia” matar a mulher, mas a testemunha não compareceu a nenhuma das audiências.
A estratégia da defesa de Milton é tentar abaixar a pena de réu. O advogado de Milton também a insuficiência de provas, dizendo que não foi feita uma perícia nos objetos que foram encontrados na casa da vítima, que foi a faca e a calça suja de sangue.
Relembre o caso
Um corpo foi encontrado carbonizado dentro de um carro, no dia 2 de agosto, em Chapadão do Céu. O carro estava parado a dois quilômetros da rodovia que dá acesso ao Parque Nacional das Emas.
O corpo identificado é de Lindava Maria da Silva, de 39 anos, que morava em Ouricuri (PE). Ela é irmã do delegado sindical de Ouricuri, Francisco Manoel da Silva, conhecido como ‘Chico da Ciência’, que mora no Sítio Cova do Anjo.
De acordo com informações, um dos suspeitos, que é irmão de Lindalva, veio para Goiás em busca de emprego, mas como não estava trabalhando e não procurava, eles brigavam constantemente. Ela chegou a pedir que o irmão procurasse outro lugar para morar. O outro suspeito era marido da mulher, moravam juntos há 11 anos.
Após ser preso, o pedreiro foi encaminhado para a Delegacia Regional de Polícia em Jataí e confessou o crime. Ele disse que antes de queimar o corpo havia matado a mulher a facadas.
Emocionada, em depoimento a filha fala da mãe. “Sempre foi uma pessoa muito generosa, teve uma relação boa com as pessoas a volta dela, educou os filhos muito bem, estava muito feliz por ver meu irmão fazer faculdade. Queria ver a família crescer, sempre trabalhou muito pra isso”.