O Brasil conheceu a história do adolescente João Carlos de Souza Silva, de 14 anos, após reportagem do Domingo Espetacular, da Record TV, na noite de 26 de maio. Joãozinho, como era conhecido, foi assassinado a tiros, no Setor Vida Nova, na periferia de Trindade, em Goiás, no último dia 21.
Na ficha de Joãozinho arquivada em uma delegacia de Trindade, a cronologia de crimes que terminaria com o adolescente caído morto em cima da bicicleta, uma Monark preta, com seis perfurações pelo corpo franzino. Para policiais da cidade, a morte era questão de tempo.
Veja o vídeo:
Filho de pai, mãe e avô envolvidos com o tráfico de drogas, Joãozinho fez carreira precoce na criminalidade.
Aos 11 anos, foi apreendido pela primeira vez ao confessar que matou com um tiro Deuzelino Francisco da Conceição, de 56 anos, na tarde do dia 29 de outubro de 2015. Deuzelino era motorista e fazia entregas em um supermercado quando foi abordado por Joãozinho e um comparsa. Como a vítima disse que não tinha dinheiro, foi morta com um tiro.
Do final de 2015 até janeiro de 2019, o adolescente somou 13 passagens: latrocínio, receptação, tráfico de drogas, desobediências, posse de drogas, porte ilegal de arma de fogo, roubo, furto de veículo e desacato.
Depois de provavelmente ter matado o motorista durante o assalto, Joãozinho, ainda uma criança, foi matriculado em uma escola e inscrito em um projeto da Polícia Militar. Ele não sofreu qualquer punição por conta do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
No primeiro dia de aula, no entanto, Joãozinho bateu em uma criança de 4 anos, ameaçado colegas, professores e até quebrou uma carteira. Ele acabou sendo transferido e, depois, abandonou os estudos.
Aos cuidados de um tio, Joãozinho transformou o cotidiano da casa que passou a morar. Agredia os primos e chegou a ameaça-los. Acabou sendo entregue ao Conselho Tutelar novamente conforme um relatório assinado pelo tio no dia 3 de março de 2016.
Órfão de pai traficantes, Joãozinho foi morar com avô, também traficante em Goiás
O pai de Joãozinho foi assassinado em 2011 a tiros. Em 2012, a mãe do menino morreu esfaqueada. Órfão, ele passou a morar com o avô, José Tavares de Miranda. Em fevereiro deste ano, José morreu na cadeia pública de Trindade, onde cumpria pena por tráfico de drogas.
Segundo a Polícia, Joãozinho assumiu o posto do avô. Envolvido com uma facção criminosa, foi executado enquanto conversava com rapazes em cima de sua bicicleta, uma “monark” preta. Ele vestia uma desgastada camisa do Goiás Esporte Clube.
Joãozinho foi sepultado em um cemitério público de Trindade três dias depois de ter sido assassinado. Apenas o tio compareceu ao velório que durou 30 minutos.
No enterro, apenas o barulho da terra caindo sobre o caixão do menino de 14 anos.