Michael Rotich, técnico e chefe da equipe de atletismo do Quênia durante os Jogos Olímpicos do Rio-2016, foi suspenso por dez anos nesta quarta-feira após se envolver em um grande escândalo de corrupção. Ele acabou sendo punido com a dura sanção depois de pedir propina de US$ 12 mil (cerca de R$ 49 mil, pela cotação atual) para ajudar atletas a não serem flagrados em testes antidoping com substâncias proibidas.
Rotich foi banido pelo Comitê de Ética da Associação das Federações Internacionais de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês) após uma investigação de três anos motivada por uma reportagem publicada pelo jornal britânico The Sunday Times. Ele também foi condenado a pagar uma multa de US$ 5 mil (aproximadamente R$ 20,4 mil) e mais US$ 14 mil (algo em torno de R$ 57 mil) em custos processuais.
Em vídeos divulgados pela publicação inglesa durante a Olimpíada do Rio e gravados em uma parceria com a emissora alemã ARD, Rotich apareceu pedindo dinheiro a dois repórteres disfarçados, que se passaram de maneira fictícia por um técnico e um líder de uma equipe de atletas britânicos. Em troca da propina, o chefe do atletismo queniano prometia fornecer informações sigilosas, avisando, com até 12 horas de antecedência, sobre o momento em que competidores seriam alvo de exames realizados pelas autoridades antidoping.
Após a revelação do escândalo durante os Jogos do Rio, Rotich foi preso ao retornar ao Quênia, em agosto de 2016, quando promotores pediram que o ex-chefe da equipe de atletismo do país fosse mantido sob custódia por temerem que ele atrapalhasse as investigações do seu caso. Naquela ocasião, a Federação de Atletismo do Quênia exigiu que Rotich deixasse o Rio e voltasse ao seu país, para facilitar a investigação.
Os vídeos que flagraram Rotich pedindo propina foram divulgados depois de uma série de escândalos de doping e corrupção envolvendo atletas e dirigentes de peso do atletismo do Quênia. No seu caso, o ex-chefe queniano da modalidade foi filmado ao lado de uma outra pessoa do seu país, um homem identificado como Joseph Mwangi, que disse que ele poderia fornecer a sustância eritropoietina, conhecida como EPO, hormônio cuja utilização é proibida e que serve para melhorar a resistência dos competidores. A promessa era de entregar aos atletas o EPO quando eles estivessem na Quênia.
Três vídeos foram gravados em um encontro de Rotich com repórteres disfarçados ocorridos em janeiro e fevereiro de 2016. O então líder do atletismo queniano disse, nestas ocasiões, que poderia usar a sua influência na famosa região de altitude elevada chamada de Rift Valley, usada para o treinamentos dos competidores no Quênia, para descobrir quando as autoridades antidoping estavam planejando realizar testes nos atletas britânicos que estariam no país em preparação para a Olimpíada do Rio.
Rotich afirmou aos repórteres disfarçados que ele conhecia as pessoas que realizavam os exames antidoping no Quênia e diria a eles: “Eu estou no comando da região. Você se importaria de tempos em tempos deixar-me saber se você está vindo para testar nossos próprios atletas ou atletas internacionais?”.
Ao pedir propina, o ex-chefe do atletismo do Quênia disse que estava confiante de que estas pessoas que realizaram os testes o avisariam com 12 horas de antecedência sobre os exames nos atletas britânicos, o que permitiria que os mesmos tentassem liberar as substâncias proibidas de seus organismos antes do encontro com as autoridades antidoping. Estes testes fora de competição ocorrem de maneira surpresa com o objetivo de surpreender atletas e impedi-los de praticar qualquer ação que não permita a detecção do uso de doping.
Ao tentar se defender em seu caso no qual agora foi punido com dez anos de suspensão pela IAAF, Rotich alegou que estava apenas juntando informações de corrupção para apresentá-las às autoridades. Porém, a sua justificativa foi rejeitada pelos três membros do Comitê de Ética da entidade máxima do atletismo que o julgaram.
Embora as ações ilegais de Rotich não tenham deflagrado nenhum caso de doping ou de encobrimento de uso de substâncias proibidas por parte de atletas, os testes sem
aviso prévio em competidores no Quênia acabaram motivando uma investigação mais detalhada no caso de Asbel Kiprop, campeão olímpico da prova dos 1.500 metros nos Jogos de Pequim-2008.
CAMPEÃO OLÍMPICO É SUSPENSO – O queniano Kiprop admitiu que foi avisado por antecedência sobre um teste antidoping que seria realizado em seu país no final de 2017, assim como reconheceu ter pago uma pequena quantia em dinheiro a um dirigente de controle de dopagem, em uma prática que ele sugeriu que era comum no Quênia.
Flagrado com EPO em um exame, Kiprop foi suspenso por quatro anos, em punição anunciada no último sábado pela Unidade de Integridade do Atletismo (AIU, na sigla em inglês). Ouro nos Jogos de Pequim, ele também é tricampeão mundial dos 1.500m após ter triunfado em finais desta prova em 2011, 2013 e 2015.