Dias antes de ser sequestrado e assassinado a tiros, Kaique Liberato Melo, o rapper Sabotinha, de 17 anos, teria se envolvido em uma enroscada com dois amigos.
Segundo pessoas próximas ouvidas pelo Portal Dia Online nos últimos 7 meses, o trio teria roubado uma arma e tentado matar um traficante de Aparecida de Goiânia.
A vingança chegou em forma de sequestro, morte e ocultação de cadáver do Kaique Sabotinha. A Polícia Civil já vem trabalhando com essa hipótese, mas não quis dar detalhes do inquérito de dois volumes. Os dois jovens envolvidos fugiram para fora do estado de Goiás com medo de morrer.
Procurados, nenhum quis falar do caso. “Está apavorado”, disse o familiar de um deles no fumódromo do Terminal Cruzeiro.
Outro familiar, ainda mais discreto, conversou com o repórter em uma panificadora do Jardim América. “Não podemos comentar mais nada além de que eles fugiram para não morrer.”
Desde quando o resultado ficou pronto, a reportagem fez pelo menos três solicitações para ter acesso ao exame cadavérico, o que foi negado pela Polícia Civil e pelo Instituto Médico Legal (IML).
Seis meses após os restos mortais serem encontrados e identificados após exame de DNA, nenhum suspeito foi preso pelo assassinato do rapper, morto com pelo menos dois tiros na cabeça, conforme o laudo cadavérico.
O exame encontrou três perfurações no crânio do Sabotinha. Segundo o delegado responsável pela investigação no Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) Eduardo Rodovalho explicou ao Portal Dia Online, não é possível saber se o rapper foi morto com mais tiros.
“Um dos buracos pode ter sido orifício de saída. Mas foi morto com pelo menos dois tiros”, garante Rodovalho, que tem analisado nas últimas semanas os dois calhamaços de oitivas anexadas ao inquérito policial que veio da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (DEIC).
O laudo, contudo, não consegue discriminar o calibre da arma utilizada para executar Sabotinha, que teve o corpo abandonado em uma mata fechada.
A ossada foi encontrada pelo filho de um chacareiro que se surpreendeu enquanto explorava a região. Os peritos encontraram a vestimenta – um short, a camiseta do Goiás Esporte Clube e piercing de língua – em meio aos restos mortais.
Arma e tentativa de homicído podem ter motivado morte de rapper Sabotinha
Sabotinha foi sequestrado dentro da própria casa em 22 de novembro de 2017. Homens armados, que se identificavam como policiais, pularam o muro da residência, no bairro Colina de Homero, em Aparecida de Goiânia.
Conforme apurou a reportagem do Portal Dia Online com exclusividade, como você por ler aqui, os restos mortais foram encontrados na Fazenda Santo Antônio, na zona rural de Aparecida, a 22,3 quilômetros de onde Kaique Sabotinha foi sequestrado. De carro, os assassinos e a vítima percorreram 42 minutos.
Kaique Sabotinha estava com o irmão quando foi sequestrado
O jovem estava com o irmão quando homens armados invadiram a casa deles no bairro Colina de Homero.
O trio estava vestido de preto, com bonés e óculos escuros, abriu o portão sob os gritos de: “Não corre, não. É polícia”. Enquanto pediam para Sabotinha entregar uma arma e ameaçá-lo de prisão, o irmão dele, Kamn Liberato, ficou deitado no chão da cozinha de costas, em silêncio, com medo de morrer. Os homens subiram no telhado e reviraram a casa.
Sabotinha nunca mais foi visto depois de ser colocado em um Ford Fiesta preto. Os mesmos homens desceram a rua e foram à casa de um mecânico, pai de um amigo de Sabotinha. Queriam levá-lo também. Policiais que investigaram o caso contaram à reportagem que procuraram a família, mas ninguém foi encontrado.
Os homens já teriam ido atrás de outro amigo de Sabotinha, que morava no Papilon Park, em Aparecida. Eles queriam encontrar armas que os três teriam furtado da casa de um traficante. Com a mesma arma, conforme familiares dos dois amigos que saíram de Goiás por medo, um dos três teria tentado matar a tiros esse mesmo traficante.
A Polícia Civil não quis confirmar a história. “Temos algumas linhas de investigações”, se limitava a dizer, o ex-titular da DEIC, delegado Valdemir Branco.
Questionado sobre a demora na conclusão do inquérito, o delegado Rodovalho justifica: “O caso inicialmente era tratado na DPCA [Delegacia de Proteção à Criança e Adolescentede], depois foi para as mãos do doutor Branco [da DEIC], quando era tratado apenas como desaparecimento. O GIH entrou no caso quando os restos mortais foram encontrados. Mas não tínhamos a identidade da vítima. Agora pedi para que fosse feito um procedimento para juntar esses dois inquéritos”, explica.
Ainda segundo o delegado, a Polícia Civil trabalhou esse tempo todo para a elucidação do crime. “São dois volumes que demonstram o interesse de prender o criminoso que fez isso”, garante.