Em entrevista exclusiva, a professora presa do Instituto Federal de Goiás (IFG) Camila Marques, de 34 anos, contou sua versão após sair da Delegacia de Águas Lindas, município goiano a 198,3 km de Brasília.
Camila Marques teve o celular apreendido e foi algemada por policiais civis de Goiás na manhã desta segunda-feira (15/4), no campus de Águas Lindas do IFG.
Os policiais civis foram à unidade escolar verificar denunciar de que estudantes planejavam ataques. “Quando eu vi a truculência deles com meus alunos decidi filmar.”
Quando viram que a professora os filmava, os policiais tentaram impedi-la, mas ela os questionou.
“Eles disseram que a operação era sigilosa porque se tratava de menores, mas eu não filmava os meninos, apenas os policiais”, conta ela.
Além da professora, estavam sendo conduzidos uma aluna e dois alunos, que seriam suspeitos do ataque. Nenhuma prova foi encontrada que pudesse culpá-los, como diz nota da própria Polícia Civil.
A professora conta para a reportagem que “Eu pedi para que chamassem os pais, apoio do IFG e Conselho Tutelar, mas eles disseram que iam levar primeiro à delegacia.”
“Quando o policial me mandou entrar em uma viatura descaracterizada eu pedi para consultar um advogado. Peguei o celular para ligar e eles o tomaram violentamente e me algemaram na frente dos meus alunos, na escola que dou aulas”, diz.
“Ele foi tão agressivo que machucou minha mão ao tomar o celular. Quando questionava, eles mandavam eu calar a boca o tempo todo”, dizia.
Algemada, a professora insistiu que queria falar com um advogado. “Na delegacia não me deixavam fazer ligações e repetiam que eu não mandava lá”, lembra.
Segundo a professora, enquanto era atendida por um médico, os policiais influenciavam o tempo todo no diagnóstico. “Chegaram a gritar comigo lá dentro quando falei que tinha sido agredida.”
Em nota enviada à imprensa, a Polícia Civil de Goiás informa que a professora foi encaminhada à Delegacia de Polícia de Águas Lindas “por cometer o crime de desobediência”.
“Na delegacia foi autuada mediante Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e liberada em seguida. A autuação foi feita após ela ter filmado a abordagem dos policiais na escola, quando os investigadores apuravam uma denúncia, a pedido do próprio diretor, de que adolescentes planejavam um ataque nos moldes do ocorrido em Suzano (SP)”, diz.
A professora, no entanto, considera a acusação “estranha”.“Acusam três alunos negros, de periferia, que participam de movimento estudantil. Isso é muito estranho.”
Ainda segundo a nota da Polícia Civil, “a professora foi advertida por 3 vezes pelos policiais civis para que não filmasse a abordagem, uma vez que os adolescentes têm proteção à sua imagem, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ordem que ela desobedeceu”.
veja um dos vídeos feitos pela professora:
Policiais não encontraram nada em ação que resultou em professora presa no IFG
Nada que pudesse comprometer os estudantes em relação à denúncia de ataque foi encontrado pelos policiais. O delegado Danilo Victor Nunes Souza nega que a professora tenha sido agredida por policiais civis.
Ainda conforme nota da Polícia Civil, foi feito relatório médico e raio-X, que não constataram nenhuma lesão a ela. O médico Dinoel Cavalcante Guimarães que atendeu a professora, no entanto, lhe receitou um Flancox, remédio para dores musculares.
Quando saíram do hospital, segundo a professora, um dos policiais confiscou a receita. “Ele disse que só devolveria ao meu advogado.” Procurada, a assessoria da Polícia Civil informou que “nesses casos é feito relatório médico, não ‘receita’’.