Três advogados, dois escrivães e cinco policiais civis de Goiás tiveram as funções suspensas recentemente após decisão de uma juíza da 6ª Vara Criminal de Goiânia. Tanto os advogados quanto os membros da Polícia Civil (PC) são acusados de integrarem uma organização criminosa que arquitetava e cumpria falsas prisões para depois extorquir os presos em troca de liberdade.
De acordo com informações do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), o esquema foi descoberto na Operação Arapuca, deflagrada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO). O grupo denunciado, composto por policiais civis, escrivães e advogados, sempre atuava da mesma forma: detinha pessoas suspeitas em atividades como venda de diplomas falsos de conclusão de cursos, medicamentos controlados, drogas e cheques falsificados, a fim de exigir delas o pagamento de quantias em dinheiro para que não fossem formalmente presas ou tivessem procedimento investigatório instaurado contra si.
Ao serem falsamente detidos pelos policiais civis e conduzidos para a delegacia, de acordo com informações do TJ-GO, os indivíduos, então, eram chantageados para pagarem quantias em dinheiro. Já os advogados cumpriam o papel de comparecer à delegacia para fingir defender os presos. Entretanto, esses mesmos advogados faziam parte da organização criminosa.
Por decisão da juíza Placidina Pires, da 6ª Vara Criminal de Goiânia, tiveram o cargo suspenso os policiais civis Luís Carlos de Melo, Ironilson Martins da Rocha, Elvis Carlos Pimentel Machado, Jurcelino Melo de Barros, Adriano André Gama de Resende, e os escrivães Márcia Rodrigues de Souza e Uallyson Nogueira Rodrigues.
Já os três advogados que fingiam defender as vítimas nas delegacias mas que na verdade faziam parte do esquema, Juliana Angélica de Lucena Ferraz, Jorge Carneiro Correia e Guaracy Alves De Ávila Branquinho, estão com o exercício profissional advocatício também suspenso, de acordo com a decisão da magistrada.
De acordo com magistrada, organização criminosa de advogados e policiais civis de Goiás era “infiltrada na polícia judiciária”
Conforme a magistrada destacou, as condutas supostamente praticadas “são graves, porquanto a organização criminosa ora denunciada, em tese, era bastante estruturada, ramificada e infiltrada na polícia judiciária, sendo que os denunciados possivelmente se utilizavam das dependências das Delegacias de Polícia, viaturas policiais e armas de fogo para facilitar a execução dos delitos, turbando a ordem pública e retirando a paz social”.
Ainda segundo os autos, os denunciados, supostamente, exigiam das pessoas conduzidas informações dos chefes do esquema, a fim de possibilitar novas exigências de vantagens indevidas, em quantias ainda mais vultosas.
Exposta com a Operação Arapuca, deflagrada pelo MP-GO, a suposta organização criminosa dos denunciados foi articulada entre março e julho do ano passado.
Polícia Civil disse que aguarda a comunicação da decisão judicial
Procurada pela reportagem do Dia Online, a assessoria da Polícia Civil de Goiás declarou, em nota, que aguarda a comunicação da decisão judicial, e que a mesma “será cumprida assim que a Polícia Civil for notificada”.
Já Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Goiás (OAB Goiás) também foi contatada e disse que um processo ético-disciplinar contra os acusados já foi instaurado, e que “reafirma seu compromisso com o devido processo legal”.
Confira a nota:
“A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) informa que foi instaurado processo ético-disciplinar contra os acusados pela Operação Arapuca, inclusive com pedido de suspensão do direito de advogar. A seccional confirma que o processo segue seu rito ordinário, seguindo os termos do artigo 70 do Estatuto da Advocacia. A OAB-GO reafirma, por fim, seu compromisso com o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa e a irrestrita fiscalização da ética profissional.”