Um ano, quatro meses e 24 dias depois de ter uma arma apontada para o rosto e ver o primo, João Pedro Calembo, de 13 anos, ser morto dentro da sala de aula da escola Goyazes, Arthur relembrou o horror na última quarta-feira (13/3) quando recebeu vídeos pelo Whatsapp do ataque à Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, São Paulo.
O Portal Dia Online conversou com cinco estudantes que sobreviveram ao ataque a tiros de um colega de 13 anos na escola particular Goyazes, na manhã do dia 20 de outubro de 2017.
Entre lembranças do dia marcado por disparos, gritos, correria, e cheiro de pólvora e sangue, três meninas e dois meninos mandam um recado: estamos com vocês, estudantes de Suzano.
Eles contam que reviveram os disparos de .40 do colega de turma, que pegou a arma da mãe, policial militar, e disparou pelo menos 11 vezes, matando dois estudantes e ferindo quatro. Na sala do 8° ano tinha 27 alunos no momento da troca de professores em que ocorreu o tiroteio em Goiânia.
“Fiquei meio impactado, assustado, sabe? Lembrei da cena na minha sala, sangue no chão, todo mundo correndo desesperado”, conta Arthur, de 15 anos.
Allana, de 15, saia da aula quando foi cercada por colegas na escola. Eles queriam saber se ela soubera do ataque em Suzano que deixou dez mortos – sendo oito alunos e duas funcionárias. “Fiquei em choque. É muito triste ver isso se repetindo. A gente sabe que não vai ser a última vez”, lamenta ela.
“A gente compreende a dor de amigos e familiares. A gente entende essa dor. É preciso que a gente se una contra este tipo de violência. Quero que saiba que as famílias e colegas da escola não estão sozinhas”, afiança.
Recado de estudantes da escola Goyases aos de Suzano
Beatriz, de 15, foi uma das primeiras estudantes a conseguir escapar dos tiros na manhã de outubro na escola Goyazes. Ao ver o colega atirando, correu até uma delegacia para pedir ajuda. No dia seguinte, estaria no Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO) aguardando informações do estado de saúde dos amigos baleados.
“Acho babaca essa questão de armamento para a população. Mesmo com laudo ou grana para comprar. Facilitando, vai aumentar essas tragédias”, diagnostica e complementa: “o jeito é nos unirmos. Por isso estamos querendo conscientizar as pessoas. Estamos organizando um vídeo para enviar para os estudantes que passaram pelo mesmo que a gente. Uma forma de dizer para eles que tudo vai ficar bem. A dor, o pânico, a saudade fica, mas é preciso seguir.”
Augusto, um dos nerds daquele 8° ano, saiu ileso dos disparos, mas não consegue se esquecer do desespero que causa um ataque dessa proporção. “Rapidamente conversei com meus colegas da escola Goyazes. Agora, quero me solidarizar e mandar esperança a todos s afetados pela tragédia em Suzano.”
Izadora aparece sempre sorridente. É considerada o maior exemplo de luta da tragédia na escola Goyazes. Com o tiro que lhe atingiu a medula, perdeu o movimento das pernas. “Mesmo assim, eu não estaria aqui se não fosse Deus. Uma frase que sempre utilizo é: nunca desista. Tudo é no tempo de Deus”, diz ela. E aconselha os meninos e meninas de Suzano: “Tem muita gente perto de vocês querendo ajudar. Aceita.”
Ela ainda pede para que elas não percam a fé: “de coração, vindo de mim, da minha mãe, da minha família, nós que passamos por esse trauma, sabemos o quanto e triste, por isso queremos que essas famílias se sintam abraçadas. Não percam a esperança nem a fé”.