Crack, cocaína e merla são drogas comuns nas escuras ruas do bairro Vila Santa, na região dos motéis, um dos mais conhecidos pontos de prostituição de Aparecida de Goiânia. O Portal Dia Online teve acesso com exclusividade a um vídeo que mostra travestis cheirando cocaína e fumando crack sob a marquise de um dos motéis na Rua São Paulo, na Vila Santa Luzia.
A reportagem percorreu algumas ruas depois que o vídeo foi postado, mas imediatamente apagado devido à gravidade do estado vulnerável das travestis.
Por outro lado, muitas delas tentam ajudar as amigas viciadas. “Estou na rua há mais de 4 anos e não sei como as meninas caem nas lábias e passam a viver assim”, comenta uma delas.
Outra, que assume ter sido viciada e passado por internação para desintoxicação, sempre tenta ajudar. “Olha, mana, elas precisam de socorro”, diz outra, antes de entrar em um Polo branco.
A reportagem encontrou hostilidade, medo, mas muita vontade de fugir das drogas nas ruas onde é comum a polícia ser acionada para apartar brigas – com facas, paus e pedras -, isolar locais de homicídios ou prender pequenos traficantes.
Missionários evangélicos e católicos de vez em quando passam por ali, tentam orientar e encontram pessoas sem família, viciadas e escravizadas por cafetinas e traficantes.
O vídeo foi gravado por Maksury, uma das mais conhecidas pensionistas da região, na sexta-feira (22/2). Ela grava vídeos em seu perfil no Facebook em tom de humor. “Mas esta cena não tem nada de humor”, reconhece ela.
Maksury conversou com o repórter e, emocionada, pediu ajuda para conseguir tirar as meninas das drogas. “Olha, eu gravei com a intenção de expor, para tentar ajudar cada uma delas”, disse.
O vídeo gravado em Aparecida de Goiânia teve mais de duas mil visualizações em poucas horas. A mãe de uma das travestis, que mora em Portugal, orientou a filha, de 26 anos, a morar com Maksury. “Ela já veio para a minha casa e vamos ajudar para que ela vá para a mãe. É a única forma de sobrevivência.”
Pela timeline de Maksury, passa o universo da prostituição, mas também a rotina, como ir ao supermercado e ao cabeleireiro. O vídeo que você vai assistir gerou, em pouco tempo, uma onda de críticas e ameaças de processo à Maksury. “As pessoas não gostam de ver a verdade.”
É que algumas travestis cheiram pó na rua em plena luz do dia e fumam crack debaixo da marquise do motel.
Veja vídeo de consumo de drogas, em Aparecida de Goiânia
Pensionista, Maksury aluga quartos para travestis e mulheres trans que se prostituem, mas também para as que não se prostituem, nas ruas próximas aos motéis da região. “Aqui elas têm lugar para dormir, têm comida e carinho”, garante.
Uma travesti que mora na Espanha, que passou pela casa da pensionista, reafirma: “uma pessoa maravilhosa, que ajuda mesmo, mas que coloca na rua se estiver descontrolada, como o vídeo mostra.”
Maksury, como é conhecida, é de Altamira, no Pará. Passou anos nas ruas, se prostituindo. Nos últimos anos, comprou um lote e construiu quitinetes, de onde tira a renda. “Não fico rica porque não exploro ninguém, apenas faço por elas o que não fizeram comigo: sou uma mãe.”
Ali, recebe jovens de várias regiões de um Brasil que não enxerga a prostituição como o ponto de entrada para o uso e tráfico de drogas e, não raramente, para a morte, seja por causa das dívidas ou por overdose.
Maksury tem uma abertura incomum com as travestis. Dá conselhos, resgata e ainda ora por elas. Abre a Bíblia e tenta confortá-las quando pensam, por exemplo, em se matar.
É neste contexto que, passando pela rua na última semana, viu o que considera o “horror”.