A Polícia Civil (PC) está investigando áudios que um jovem teria enviado para sua mãe e namorada, informando sua localização, pouco antes de morrer, em Aragarças, a 380 quilômetros de Goiânia. Conforme investigações, as gravações apontam uma possível contradição na versão oficial dos policiais militares, que haviam dito que o rapaz teria morrido em troca de tiros com eles.
Os áudios teriam sido enviados no último sábado (9/2), pelo vendedor Jeferson Alves Martins, de 25 anos, pouco antes de morrer. Na madrugada do dia seguinte, domingo, um total de sete ônibus escolares, um carro do IML e uma ambulância foram destruídos em um incêndio no pátio de uma secretaria da cidade.
Conforme apurado pela PC, o crime foi cometido como forma de vingar a morte de Jeferson e cinco pessoas foram presas.
O delegado Ricardo Galvão, responsável pelas investigações, contou a um jornal local que os áudios estão circulando em redes sociais desde o dia que o Jeferson morreu. “A família levou essas gravações à delegacia na quarta-feira (13/2). Ele teria encaminhado os áudios, antes do confronto policial, para a mãe e a namorada dizendo que estava preso. Pelo horário, o confronto teria acontecido depois desses áudios”, detalhou o delegado.
A Polícia Militar disse, por meio de nota, que “não há, até o momento, como comprovar a autoria dos áudios”. O texto afirma ainda que “somente o inquérito conduzido pela Polícia Civil e o trabalho minucioso da Polícia Técnico-Científica, se o decorrer das investigações assim o exigir, podem determinar a autenticidade dos áudios”.
Ainda de acordo com o delegado, os policiais relataram que foram recebidos a tiros por Jeferson antes mesmo de o abordarem. Porém, se a vítima mandou os áudios à família dizendo que estava preso, a versão dos PMs pode ser questionada.
O delegado informou que os PMs serão chamados novamente para serem ouvidos, mas, por enquanto, o caso segue sendo tratado como está no boletim. As investigações continuam e seguem em sigilo.
Veja a transcrição dos áudios do homem morto em Aragarças que possivelmente contradizem versão de PMs
Os áudios enviados por Jeferson para a mãe e namorada foram encaminhados para a delegacia. Neles, Jeferson conta para as duas mulheres que foi chamado por um amigo que teve o carro quebrado, mas ao chegar lá, constatou que na verdade o homem tinha roubado uma fazenda.
Ele ainda passa sua localização, e pede para a mãe fazer contato com uma advogada da família, uma vez que ele foi detido pela polícia.
Jeferson trabalhava como vendedor e morando em Hidrolândia, na Região Metropolitana da capital. O jovem deixou dois filhos: um menino de 1 ano e 10 meses e uma menina de 7 anos.
Confira abaixo a transcrição dos áudios na íntegra:
Para a mãe:
Oi, mãe. Estava em casa quando um colega meu me ligou. Para ajudar ele com um carro que tinha estragado no rumo da fazenda, mas ele tinha era roubado a fazenda. Aí o povo foi e me pegou aqui, a polícia está comigo aqui. O PM Tadeu, entendeu? Aí estão correndo atrás do cara.
Não sei se vou ficar preso, mas pelo jeito eu vou. A senhora já conecta a advogada. Eu estou aqui para frente do Córrego das Mouras. Na fazendo do Júnior.
Para a namorada:
Oi, amor. Vim aqui ajudar um amigo meu perto do Córrego Grande, achei que o menino estava só com o carro estragado e o menino tinha era roubado uma fazenda. A polícia me pegou aqui. Estão correndo atrás para ver se acham o menino. Já sabem quem foi que roubou, entendeu.
Não sei se eu vou sair ou se estou preso. Estou te avisando que é por isso que eu sumi. Estava dormindo, eram 5h30 quando o menino me ligou, falou que o carro dele estava estragado, peguei a motinha do meu pai e fui.