Embora Goiânia ainda seja uma jovem cidade quando comparada a tantas outras em Goiás, já carrega consigo uma história forte e que guarda grandes personagens, sendo que alguns existiram antes mesmo de ela ter nascido. Quem passa frequentemente pelo movimentado cruzamento entre as Avenidas Anhanguera e Goiás tem a predisposição a não perceber que ali se encontra a Praça Attílio Correia Lima, mais conhecida como Praça do Bandeirante.
Tal nome se popularizou justamente pelo fato de que na praça, é possível encontrar uma escultura que representa o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva (o filho). Por incrível que pareça, o monumento se encontra no local há 76 anos, onde foi inaugurado no dia 9 de novembro de 1942, pouco depois do Batismo Cultural da então nova capital.
Importância histórica da Praça do Bandeirante
Além de ser um dos principais pontos de referência no centro de Goiânia, a Praça do Bandeirante também possui enorme valor histórico. O lugar já foi palco de grandes movimentos sociais e políticos, a exemplo das “Diretas Já” e “Caras-pintadas”, que eclodiram não apenas na cidade, mas também por todas as partes do Brasil.
O primeiro comício das “Diretas Já” em Goiânia foi realizado exatamente ali, no dia 15 de junho de 1983, uma quarta-feira, reunindo nada menos do que 5 mil pessoas. Esse foi o primeiro comício do movimento a ser realizado em uma capital, um marco importantíssimo para a história. Enquanto isso, o último comício realizado na praça aconteceu em 13 de abril de 1984, representando também o penúltimo do movimento, reunindo o número incrível de 300 mil manifestantes.
À medida que o tempo foi passando, a Praça do Bandeirante acabou sofrendo diversas intervenções, graças ao frenético crescimento do centro de Goiânia. Foi preciso alterar sua estrutura, já que vias precisavam ser instaladas no local, bem como um sistema que viabilizasse o transporte público.
Inicialmente, a escultura se encontrava bem mais acessível, em um ponto mais baixo da praça. No entanto, ela acabou passando por várias restaurações e precisou ser erguida à altura de alguns prédios do centro.
O Monumento ao Bandeirante
O monumento foi produzido pelo artista plástico Armando Zago, a pedido do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito de São Paulo, e doado como um presente aos goianienses. Esculpida em bronze, a escultura conta com nada menos que 3 metros e meio de altura e representa o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva (o filho e não o pai, que tinha o mesmo nome e ficou conhecido como “Diabo Velho”).
Em uma de suas mãos é possível ver uma bateia, que é uma espécie de tigela que se usava muito nos garimpos. Na outra mão, uma bacamarte (arma de fogo de cano curto e largo). É válido lembrar que o monumento sempre gerou polêmica e contradições entre a população da cidade, que nem sempre enxergou/enxerga o monumento com bons olhos, devido a história marcada de sangue deixada pelos bandeirantes.
Pode-se dizer que, em partes, a escultura simboliza toda a iconografia de Bartolomeu filho, que ficou conhecido como “segundo Anhanguera” (palavra que vem da língua tupi e significa “Diabo Velho”) e foi o fundador do Arraial de Santana, que mais tarde se tornou a capital de Goiás e ficou conhecida como “Vila Boa” (Cidade de Goiás).
É inegável que ele e sua expedição tiveram fundamental importância para a formação do estado de Goiás, mas existem muitos elementos nessa história que o transformam não em herói, mas em vilão.
O monumento traz consigo essa dubiedade, já que pode ser inserido em diferentes contextos como a matança de povos indígenas, cobiça e representação exploratória. Em todo caso, “enquanto obra de arte, o monumento é pobre, mas só de provocar discussão e promover inquietações, a estátua já serve como algo para ser refletido e analisado na história de Goiás“, afirma o historiador Nasr Chaul, autor do livro “Caminhos de Goiás”, do ano de 1997.