Investigações do Ministério Público Federal (MPF), que levaram ao arresto (bloqueio) de cerca de R$ 22 milhões em imóveis do ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, e do ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón, assim como de sua família, também concluíram que tanto Rincón como Perillo se utilizavam de empresas em seus nomes para resguardar bens de eventuais condenações por crimes praticados. As investigações concluíram que a empresa de Jayme Rincón funcionava dentro da Agetop, durante sua gestão.
Conforme apuraram as investigações, cuja decisão de arresto foi divulgada hoje (30/1), embora estejam em nome da empresa Ronais Participações e Investimentos Ltda, os bens alvos de arresto são, na verdade, de Jayme Rincón. Conforme apurado pelo MPF, Jayme e sua esposa Heloisa, em 2009, constituíram a empresa Rincon e Godoi Participações e Investimentos Ltda para administrar os bens da família.
Posteriormente, em setembro de 2013, a empresa passou a ser denominada de Ronais Participações e Investimentos Ltda, ocasião em que Jayme foi excluído dos quadros sociais e incluídos como sócios os seus três filhos, Rodrigo, Natália e Isabela. A empresa não possui empregados registrados e, embora conste dos cadastros da Receita Federal que seu endereço é no edifício Montreal Office, em Aparecida de Goiânia, apurou-se que, de fato, funcionava dentro da Agetop, na gestão do seu então presidente, Jayme Rincón.
Para o MPF, todos os bens em nome da Ronais são na realidade de Jayme Rincón, que teria constituído a empresa como forma de “blindagem patrimonial”. O objetivo foi o de não manter patrimônio em seu próprio nome e, dessa forma, resguardar-se de eventuais ações judiciais em seu desfavor, decorrentes dos crimes praticados. Assim, considerando que Jayme é o administrador de fato dos imóveis em nome da Ronais, o MPF pediu e foi decretado o arresto de bens da empresa para assegurar eventual condenação ao ressarcimento dos valores recebidos a título de propina.
Marconi Perillo teria aberto empresa para gerir próprio patrimônio, diz MPF
Assim como no caso da Ronais, a empresa MV Participações Ltda, que tem como sócios Marconi Perillo e sua esposa Valéria Perillo, o MPF aponta que ela teria sido criada para gerir o patrimônio do ex-governador de Goiás. A última declaração de Imposto de Renda de Perillo (exercício de 2017) indica a transferência de três imóveis em nome de Marconi para a MV, possivelmente para retirá-los de seu nome com o fim de resguardá-los de eventuais ações judiciais em seu desfavor.
Assim, fica evidente que o proprietário de fato dos imóveis da empresa é Marconi, visto que pertenciam ao investigado e foram posteriormente transferidos ao patrimônio da empresa administrada por ele mesmo, a título gratuito, com o claro objetivo de realizar blindagem patrimonial. Em razão das evidências, o MPF pediu também o arresto de bens da MV Participações, sendo decretado pela Justiça Federal.
Perillo seria o cabeça de “organização criminosa em pleno funcionamento”, diz PF
O ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, seria o líder de uma organização criminosa de coleta de propina e lavagem de dinheiro, cujos nomes presos no dia 6/12 na Operação Confraria, Jayme Rincón e Julio Vaz, seriam os integrantes. O esquema abarca, segundo a Polícia Federal (PF), as agências do Estado de Goiás pelas quais os envolvidos passaram ou ainda integram, entre elas a Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás (Codego) e a Companhia Saneamento de Goiás (Saneago).
Em documento do Ministério Público Federal (MPF) ao qual a reportagem do Dia Online teve acesso, consta que, além de longevo (opera pelo menos desde 2010, havendo indícios de que atue desde até mesmo antes, em 2006), o esquema permanece atualmente em plena atividade de coleta de propina e de lavagem de dinheiro. De acordo com o documento, “o mecanismo segue operando com as mesmas engrenagens”.
A reportagem do Dia Online segue tentando contato com as assessorias tanto de Marconi Perillo como de Jayme Rincón.