Como no último domingo (27/1) da sua vida, o torcedor do Goiás Rondinelly Borges de Oliveira, de 22 anos, não conseguia pensar em outra coisa que pudesse fazê-lo tão feliz quanto ver o time em campo.
Fazia questão, mesmo com a preocupação da mãe, Luzdeny de Souza Rezende, de sair com o “bonde” da Força Jovem, em Senador Canedo, para ver o time jogar em qualquer lugar.
Animado, depois do almoço, já estava vestido com a camiseta e bermuda da Força Jovem, que para ele eram quase escudos no domingo. Esperaria mensagens do Whatsapp confirmando o local e hora que encontraria com os amigos para seguir para o Serrinha, em Goiânia.
Pelo menos duas horas de busão separam o grupo, que se uniria a outros nos terminais da capital, até o Estádio Hailé Pinheiro. Ele tinha na ponta da língua palavras de ordem e músicas que exaltam o esmeraldino ou implica o adversário, Vila Nova.
A partida tinha hora para começar, às 17h. O torcedor ia à partida em que Goiás e Vila Nova se enfrentaram neste domingo pela terceira rodada do Campeonato Goiano em jogo de torcida única. O time esmeraldino venceu por 2 a 0, com gols dos atacantes Michael e Júnior Brandão.
Três horas antes, contudo, no meio do caminho, o grupo da Força Jovem canedense foi cercado por homens armados distribuídos em dois carros. Os jovens tentaram escapar. Rondinelly levaria entre cinco e sete tiros que o deixaram caído ao chão, próximo a uma lixeira.
Testemunhas contaram ao Dia Online que um rapaz apontou a arma. Alguns dos jovens dentro do carro pediram para ele não fazer aquilo. Mas o atirador matou Rondinelly com disparos que o deixaram imóvel.
O crime ocorreu antes do clássico entre Goiás e Vila Nova. Desesperados, os amigos pediram a um homem para levar Rondinelly para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Lá, por causa da gravidade dos ferimentos, foi levado para Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), onde não resistiu por causa do sangramento.
A história do Goiás Esporte Clube se cruza com a parte da biografia de Rondinelly. Quando tinha 15 anos, o irmão dele morreu de câncer e causou forte comoção na torcida.
O irmão começou a passar mal quando vinha de um jogo entre Goiás e Flamengo, no Rio de Janeiro. O rapaz, também torcedor do Goiás, morreu 1 ano e seis meses depois do tratamento.
Em um vídeo produzido pela comunicação do time, o torcedor do Goiás aparece contando fragmentos da história do irmão.
Veja vídeo do torcedor do Goiás contando a história do irmão que morreu de câncer
Em nota, o Goiás Esporte Clube informou que a vítima estava a caminho do estádio. No comunicado, o time diz que está de luto e que “isso não é futebol”.
O corpo do torcedor foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia. Ele não havia sido liberado até as 22h15.
O clube pagou as despesas de velório e sepultamento do torcedor, com sepultamento marcado para a tarde desta segunda-feira (29/1).
O delegado responsável pelas investigações, Antônio André, não atendeu as ligações até às 16h20 desta segunda-feira.
Em nota, a Polícia Civil de Goiás, por meio da Coordenação de Comunicação, informou que os policiais do GIH (Grupo de Investigação de Homicídios) de Senador Canedo estão em diligências para investigar o homicídio que vitimou Rondinelly Borges de Oliveira.
“A apuração é sigilosa. Por essa razão, não é possível que o Delegado se manifeste no momento. Mais detalhes sobre o caso serão divulgados após a conclusão do inquérito e/ou elucidação do crime, sob pena de prejuízo à investigação”, diz a nota.