Os pais das crianças que frequentam a Escola Estadual Santos Dumont, localizada no município de Nazário, a 70 quilômetros de Goiânia, ainda não conseguiram absorver a notícia que receberam na última quinta-feira (17/1) em reunião de pais e mestres convocada pela diretoria da escola. A escola, que é voltada para a Educação Infantil de 1ª fase (do 1º ao 5º ano) e funciona em regime de tempo integral desde o ano de 2009, recebeu a notícia por parte do Governo do Estado que, a partir de segunda-feira (21/1), início do período letivo, passará a funcionar somente no turno matutino.
A decisão faz parte de um processo de municipalização das escolas estaduais voltadas à Educação Infantil, que, de acordo com a Secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Goiás (Seduce), acontece todos os anos, no início do período letivo. Entretanto, o anúncio parece ter pego a população nazariense de surpresa.
A mãe de um aluno de 10 anos da Escola Santos Dumont conta que a mudança acarretará num grande impacto para a região. Segundo a mãe do aluno, que não quis se identificar, o município só possui uma creche para toda a região, e que só atende crianças de até 5 anos de idade. “Com o fim do regime de tempo integral da escola, eu tenho com quem deixar meu filho, mas sei de muitas mães que não tem, e que a creche não vai pegar [as crianças]”, relata.
De acordo com ela, a notícia foi dada numa reunião de pais e mestres convocada na escola na última quinta-feira. Ela conta que o próprio corpo gestor da escola foi pego de surpresa, e que o anúncio foi feito de forma indignada e emocionada. “Eles [os professores] deram a notícia pra gente chorando! Fomos pegos de surpresa!”, revela.
A escola, que atende crianças de toda a região, é considerada pelos moradores como “escola modelo” devido ao engajamento e dedicação do corpo docente e as diversas atividades extra-curriculares oferecidas às crianças. “As crianças tinham teatro, artesanato, esporte, tudo! O meu filho ama aquela escola!”, desabafa a mãe de um aluno.
Ela conta ainda que não era raro os professores tirarem do próprio bolso para fazerem a alegria das crianças. “Na Páscoa, por exemplo, como as crianças não ganharam nada da Prefeitura, os próprios professores se juntaram e mandaram fazer ovos de chocolates para as crianças”, relembra.
A mãe conta que um grupo de mães, inclusive, está se organizando para ir à Goiânia fazer um protesto contra a decisão do Governo de encerrar o regime de tempo integral da escola. Na prática e até agora, a mudança foi aplicada diretamente à turma de 1º ano, que foi municipalizada pelo Governo e, agora, será transferida para outra escola da região. As turmas restantes (que vão até o 5º ano) só funcionarão no turno matutino.
Em tom de desabafo, a mãe lamenta. “Muito me admira um governador [se referindo a Ronaldo Caiado] que falou no palanque que investiria nas escolas de tempo integral, e agora está acabando com elas”, finaliza.
Com fim de escola de tempo integral em Nazário, funcionários são demitidos
A decisão do Governo do Estado de acabar com a escola de tempo integral do município de Nazário gerou, ainda, outro fator negativo para a região: desemprego.
Com o anúncio da mudança, 15 funcionários que trabalhavam na escola no sistema de tempo integral (das 7h às 17h) tiveram seus contratos encerrados.
Em nota, a Seduce se pronunciou sobre o caso, e disse que a mudança é feita todo ano “com vistas a otimizar a utilização dos recursos públicos”.
Veja abaixo a nota na íntegra:
“Nota da Seduce
A Secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Goiás (Seduce) informa que no processo de reordenamento da rede pública de ensino, a Escola Estadual Santos Dumont, em Nazário, atenderá, em 2019, 122 alunos de 2º a 5º Ano do Ensino Fundamental, em tempo padrão, no turno matutino.
Esclarece que os estudantes de 6º ao 9º Ano do Ensino Fundamental serão atendidos no Colégio Estadual Edmir Póvoa Lemes, que fica a 700 metros da Escola Santos Dumont.
A Seduce esclarece, também, que o processo de reordenamento da rede estadual é realizado no início de cada ano letivo, com vistas a otimizar a utilização dos recursos públicos.”