Os cidadãos goianos parecem ter despertado um certo interesse por armas de fogo neste ano. Pelo menos é o que mostram os dados de buscas no Google, onde é possível notar um aumento de quase 80% nas buscas por armas, especificamente pelo termo “comprar arma”, num período que compreende do final de dezembro de 2018 até o início da segunda quinzena de janeiro de 2019. O município campeão de buscas pelo termo “arma” foi Luziânia, no Entorno de Brasília.
Os dados são do Google Trends, que mede a quantidade de pesquisas por determinados termos de acordo com regiões específicas. Do dia 22 de dezembro do ano passado até o dia 12 de janeiro deste ano, houve um aumento de 79% nas buscas pela internet, no Estado de Goiás, pelo termo “comprar arma”.
A psicóloga clínica Heláine Valéria Neves, umas dos especialistas credenciados em Goiás junto à Polícia Federal (PF) para realizar avaliações psicológicas em candidatos que manifestam interesse em ter uma arma de fogo, disse que o aumento da procura do artefato em questão pode estar relacionado ao novo presidente do país, Jair Bolsonaro. “Esse aumento pode ter a ver com o novo governo, com toda aquela proposta de facilitar não o porte, mas a posse de arma”, explica.
De acordo com a psicóloga, a partir de agora o cidadão que quiser ter a posse da arma de fogo encontrará mais facilidades. “Será mais acessível, mais fácil, com menos requisitos para ter essa posse [da arma de fogo]”.
Ela ainda chama a atenção para a diferença essencial entre a posse e o porte da arma de fogo. “É importante deixar claro essa diferença. Vejo muita gente falando que o presidente vai liberar o porte de arma, o que não é verdade”, comenta. A posse dá direito ao indivíduo manter em casa ou em seu local de trabalho a arma de fogo, desde que seja o responsável legal pelo estabelecimento. Não é permitido sair com a arma. Já o porte, de acordo com a Lei nº 10.826, é permitido sair com a arma, mas aos agentes de segurança pública, integrantes das Forças Armadas, policiais, agentes de inteligência e agentes de segurança privada. Civis não podem ter porte de arma, exceto se, comprovadamente, tiver a vida ameaçada.
Avaliação psicológica é fator de diminuição, e não de extinção de riscos
Com o novo decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), terão mais facilidade em ter uma arma os agentes públicos (ativos ou inativos) da área da segurança; militares (ativos ou inativos); residentes de zonas rurais; residentes em área urbana de estados com índices anuais de mais de dez homicídios por cem mil habitantes, segundo dados de 2016 apresentados no Atlas da Violência 2018; donos ou responsáveis legais de estabelecimentos comerciais ou industriais e colecionadores, atiradores e caçadores, devidamente registrados no Comando do Exército.
Todos estes perfis deverão, obrigatoriamente, passar pela avaliação psicológica que determinará a aptidão ou inaptidão para se ter uma arma. Entretanto, a avaliação, de acordo com a Dra. Heláine, é apenas um fator de diminuição de riscos. “Assim como toda avaliação, a que nós fazemos para quem quer ter uma arma diminui os riscos. O ser humano está em constante transformação, de repente eu avalio um candidato hoje e os teste mostram que ele é apto, mas depois de um mês acontece algo na vida daquela pessoa que muda aquele quadro”, explica.
Cidade goiana com altos índices de violência liderou buscas por armas na internet
De acordo com o Google Trends, o município de Goiás campeão na procura por armas na internet foi Luziânia, no Entorno de Brasília. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em junho de 2017, Luziânia está entre as 30 cidades mais violentes do Brasil.
Intitulado Atlas da Violência 2017, o estudo foi feito em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e traz dados de 2015. O levantamento considera cidades com mais de 100 mil habitantes.
Na 20ª posição no ranking nacional, Novo Gama, no Entorno do Distrito Federal, lidera a lista dos municípios mais violentos de Goiás, a soma da taxa de homicídios e o número de Mortes Violentas com Causa Indeterminada (MVCI) aponta 75 mortes a cada 100 mil habitantes. Em segundo, na 21ª posição, está Luziânia.