Gisele, Érica e Paula não tiveram um bom começo de ano. Na semana passada, estiveram no centro da cidade para assinar a demissão da empresa em que trabalhavam. Mas não perderam o bom humor. Aproveitaram para caminhar pela região e deram de cara com o monumento em homenagem ao compositor Carlos Gomes, na Praça Ramos de Azevedo.
E não pensaram duas vezes ao ficar sabendo de uma lenda urbana relacionada à estátua, que traz o compositor e alguns de seus principais personagens: quem encostar no dedo de Condor, na base da escadaria, terá muita sorte. “Vai que dá certo, né?”, brincou Paula, de 18 anos.
Não é o único mistério do local. Ali ao lado, uma pesada porta de ferro esconde um longo túnel que leva a praça aos subterrâneos do Teatro Municipal de São Paulo. Ele está ali desde 1911, quando o teatro foi inaugurado, e servia de entrada de ar.
Quem por ele seguir, vai acabar sob a plateia do Municipal, não sem antes passar pelo salão dos arcos, onde verá que, na ausência de concreto, os tijolos trazidos da Bahia foram grudados por uma pasta feita de conchas trituradas e óleo de baleia.
Esses e outros espaços pouco conhecidos do Municipal estarão abertos ao público ao longo de janeiro. Diariamente, entre 10h e 17h, visitas guiadas serão realizadas de hora em hora – e, ao meio-dia, há um tour pelos lugares “não visitáveis”, como o túnel e a cúpula, local mais alto do teatro. Além disso, o Municipal ficará aberto ao público, que poderá circular gratuitamente pelo saguão ao longo do dia.
“O objetivo é mostrar para as pessoas que o Municipal é um patrimônio da cidade que pode e deve ser explorado por todos que tenham interesse”, diz Larissa Paz, orientadora educacional do teatro.
“Muitas pessoas que entram aqui pela primeira vez dizem que tinham medo, receio, achavam que não tinham roupa, era caro. Queremos desfazer essa imagem”, explica. “É preciso quebrar a parede invisível que impede as pessoas de entrar aqui. O importante é que o visitante se sinta à vontade para experimentar o teatro. É isso que dá sentido à cultura”, completa.
Na visita tradicional, o público tem acesso a espaços como o Salão Nobre, o palco, a plateia. O tour dos lugares não visitáveis, por sua vez, começa na porta do túnel na Praça Ramos de Azevedo e termina na cúpula do teatro, espaço que já foi usado como oficina de cenários e hoje é a sala de ensaios para orquestra e coro.
O local, dizem as lendas, também costuma ser frequentado pelos famosos fantasmas do Municipal. Sobre eles, no entanto, as visitas não falam, para não gerar receios ou ferir suscetibilidades.
Mas, sobre esse assunto, basta uma conversa rápida com os funcionários da casa. Eles vão te contar, por exemplo, que entre os seguranças é o turno da noite o que sofre com maior rotatividade. Que las hay, las Hay…
Gestão
O Teatro Municipal ainda não anunciou oficialmente sua programação, mas a temporada lírica começa no dia 14 de fevereiro, com O Barbeiro de Sevilha, do compositor italiano Gioachino Rossini. Antes, porém, no dia 9, o Instituto Odeon deve deixar a gestão do teatro. O que acontece depois ainda é incerto: o edital de convocação de uma nova OS para a tarefa está suspenso pelo Tribunal de Contas do Município. E, como revelado pela coluna Direto da Fonte na sexta-feira, 11, o Ministério Público abriu inquérito para apurar eventual ato de improbidade do secretário municipal de Cultura André Sturm ao afastar o Odeon do Municipal, decisão tomada de forma unilateral pela secretaria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.