O Catar começa agora a parte mais desafiadora na preparação para receber a próxima Copa do Mundo, em 2022. Se o rico país do Oriente Médio conta com recursos de sobra para construir estádios e cuidar da infraestrutura para o torneio, a fraca seleção local se preocupa em não dar vexame nos resultados. Por isso, neste sábado, os catarianos estão atentos, pois com o início da Copa da Ásia, que será aberta com o jogo Emirados Árabes Unidos x Bahrein, se dá também o começo da preparação para o Mundial em competições oficiais.
A primeira competição do Catar no ciclo de preparação para a Copa impõe um desafio de nível fácil se comparado aos compromissos seguintes. O torneio continental será disputado nos Emirados Árabes Unidos, com a presença de 24 países, entre eles alguns fraquíssimos, como Iêmen e Turcomenistão.
Depois disso, o Catar virá ao Brasil em junho para jogar a Copa América como convidado. O intuito da federação local é justamente adquirir experiência diante de adversários fora da Ásia. Vale o esforço para um país que nunca jogou um Mundial, é só o 93.º no ranking da Fifa e tem apenas jogadores que atuam no futebol local.
O uruguaio Jorge Fossati dirigiu a seleção do Catar por duas vezes, a última delas em 2017, e explicou ao Estado que a equipe precisará evoluir bastante para estar competitiva na próxima Copa. “Faz falta a eles terem mais experiência internacional. Os jogadores são jovens. Não sei se é uma boa ideia participar de uma Copa América. É um nível muito alto para o Catar”, disse o técnico, que no Brasil dirigiu o Internacional, em 2010.
Na Copa da Ásia os catarianos terão pela frente na primeira fase Líbano, Coreia do Norte e Arábia Saudita. Na história do torneio a equipe jamais chegou às semifinais. O título mais importante da seleção é o tricampeonato da pouco expressiva Copa do Golfo.
O governo do Catar tem participação ativa no futebol local e quer elevar o nível dos clubes. Para isso, nos últimos anos auxiliou as equipes a contratarem estrangeiros. A maior estrela é o espanhol Xavi, ex-Barcelona. O jogador campeão mundial em 2010 tem o desejo de contribuir com a evolução do esporte no país e indicou o interesse de no futuro dirigir a seleção.
A grande chegada de estrangeiros, inclusive do Brasil, impactou na seleção nacional. Jogadores como Rodrigo Tabata, ex-Goiás e Santos, foram naturalizados e passaram a defender o Catar. Em 2017, no entanto, o governo mudou de planos e decidiu ser mais rígido, para ter um elenco mais “local” e menos “importado”.
“Essa mudança foi um dos fatores para eu sair. O Catar poderia continuar a ter uma equipe muito competitiva, mas esbarra às vezes em questões políticas. O time é competitivo, mas só para o nível de disputa na Ásia”, explicou Fossati.
O país árabe tentará na Copa da Ásia surpreender a atual campeã Austrália e as tradicionais seleções de Japão e Coreia do Sul com um elenco formado por jogadores abaixo de 30 anos e somente um naturalizado (um zagueiro português). O principal desafio da seleção comandada pelo espanhol Félix Sánchez é falta de mão de obra.
Segundo Fossati, pelo fato de o Catar ter população de menos de 3 milhões de pessoas, os jogadores têm pouca concorrência no caminho até a convocação. “Eles são de um país pequeno, então não precisam caprichar muito para poderem jogar. Quase não se tem competitividade. Então, é difícil trabalhar com essa mentalidade”, explicou.