O arquiteto paulista Roberto Burle Marx (1909-1994) é um dos nomes mais reconhecidos mundialmente por seus trabalhos com paisagismo. Mas uma nova exposição no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE), que já está em cartaz, apresenta trabalhos pouco explorados do artista.
Intitulada “Burle Marx: Arte, Paisagem e Botânica”, a mostra, com curadoria de Cauê Alves, se divide justamente nestes três núcleos. Ao todo, são cerca de 70 trabalhos, que passam por pintura, design e até mesmo por expedições científicas.
Mesmo dentro da arte, por exemplo, Marx se desdobrou por estilos e técnicas variadas. Trabalhou com desenhos, pinturas, esculturas e tapeçarias, que passam pelo realismo figurativo e pela abstração informal.
Numa das passagens menos conhecidas de sua vida profissional, a botânica, o artista multifacetado mostrou seu lado explorador, com viagens e expedições pelo Brasil, que renderam a descoberta de 35 espécies de plantas. Na mostra do MuBE, desenhos, exsicatas (amostra de planta prensada em uma cartolina) e fotografias assinadas por Burle Marx são apresentadas, junto com trabalhos de outros pesquisadores contemporâneas, para revelar este lado do arquiteto.
“Queremos chamar a atenção para os mais diversos atributos de Burle Marx, mas sem um tom de retrospectiva”, garante o curador da exposição em comunicado. “Ao contrário, trazemos ao público singularidades pouco exploradas de um artista de múltiplas capacidades. Sem dúvida alguma, o paisagismo foi sua grande contribuição para o mundo, mas ele foi muito mais do que um grande paisagista.”
Para Alves, um lado interessante deste trabalho de Marx é o fato de ele ter se antecipado às conversas de preservação da natureza brasileira. “Ele é um personagem que tem uma relação muito forte com o campo da ciência. Foi militante pelas causas ambientais quando essa não era ainda uma pauta da sociedade brasileira”, afirma ainda em nota à imprensa, relembrando que o arquiteto se posicionou, na década de 1970, contra a derrubada de árvores para a construção de estradas pelo País.
Mas o núcleo que completa a exposição traz Burle Marx no seu mais reconhecido hábitat, o paisagismo. O maior destaque é a remontagem do mosaico de pedras, provisória e em vinil, do primeiro estudo feito por ele para o jardim do próprio MuBE, do qual foi o responsável pelo projeto paisagístico do espaço externo.
O curador reforça, no comunicado, que não só o trabalho de Marx cria um diálogo com o prédio do museu, idealizado por Paulo Mendes da Rocha, como um diálogo entre cidade e natureza, uma constante em seu trabalho. “Paulo Mendes da Rocha e Burle Marx, a quem coube a questão da ecologia do MuBE, idealizaram um museu integrado com o bairro, que já é um jardim, o Jardim Europa”, diz Alves. “Ele integra o projeto justamente com a ideia de dar conta desse aspecto que está na origem da instituição.”
Uma feliz coincidência da exposição é que o MuBE, onde é realizada, fica em frente à antiga residência da colecionadora de arte Ema Klabin, casa a qual foi o responsável por projetar seu jardim. Hoje, o espaço faz parte de uma fundação que leva o nome de Ema e que serve como centro cultural. Durante a nova mostra de Burle Marx, a casa de Klabin vai servir como uma extensão.