Numa entrevista antiga com o repórter do jornal O Estado de S. Paulo, bem antes do Oscar que recebeu por Cisne Negro, em 2010, Natalie Portman já anunciava que queria se tornar diretora, e com um objetivo bem específico. Ela queria adaptar o romance autobiográfico de Amós Oz. Demorou até que o fizesse, em 2015. Resultou num filme grave e sombrio, De Amor e Trevas.
A história de um garoto que, durante a guerra árabe-israelense de 1948, cresce numa casa que possui uma grande biblioteca, com livros de várias línguas. Um refúgio de cultura num mundo conturbado. Mas a serpente infiltra-se nesse paraíso e a mãe instável, emocionalmente, comete suicídio. O menino vai para um kibutz, troca de nome, vira escritor e ativista político.
Por que Natalie quis tanto contar essa história, a ponto de, além de atriz, ter virado diretora? “Por que eu acho que essa dor é universal. A perda da mãe, o mundo seguro que se revela frágil. Consigo entender tudo isso, como mulher e israelense, e ainda tem a minha admiração profunda por Amós como escritor. É uma voz sensata, falando de paz e tolerância num Oriente Médio sempre ameaçado pelos radicalismos.”
Talvez o filme não tenha saído como Natalie sonhava. Com a experiência de apenas um curta – em Nova York Eu Te Amo -, ela investe no desenho dos personagens, mas a obra não faz jus à riqueza da prosa do escritor. Possui qualidades, mas é algo fria e distante.
Não uma adaptação, mas um documentário sobre as Forças Armadas de Israel no qual Amós Oz dá seu depoimento crítico, Tsahal, de Claude Lanzmann, é ilustrativo da militância do escritor. E não se pode esquecer das demais ficções, essas sim, adaptações do escritor.
Mikhal Sheli, de Dan Wolman, sobre um casal na guerra dos Seis Dias, foi indicado por Israel para o Oscar de 1977. Em O Pequeno Traidor, de Lynn Roth, todo Oz está contido na história de um garoto israelense que, durante a ocupação da Palestina, provoca a ira de sua comunidade ao se tornar amigo de um soldado das forças britânicas que tentam manter a paz na região. Amós Oz sempre defendeu que, sem a criação de um Estado palestino, não haverá paz no Oriente Médio.