Nos cinco longas da franquia Transformers dirigidos por Michael Bay sobravam explosões e lutas de robôs que viravam carros. Mas Bumblebee, spin-off de Travis Knight, é bem diferente – e por isso sua estreia em pleno Natal não é tão estranha quanto parece. “Minha prioridade era fazer um filme que tivesse um cérebro pensante e um coração batendo forte, um filme para a família toda”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo o diretor.
É a mesma filosofia que ele sempre empregou no estúdio de animação Laika, especializado em stop-motion, e em longas como Kubo e as Cordas Mágicas. “Fiquei surpreso quando me chamaram para conversar, mas vi que estavam pensando de outra maneira neste caso.”
Em vez de ter um homem como Shia LaBeouf ou Mark Wahlberg como protagonista, Bumblebee aposta numa jovem. Hailee Steinfeld é Charlie, uma adolescente deslocada nos anos 1980 que luta contra a tristeza pela perda do pai trabalhando na reforma de um carro, como faziam quando ele estava vivo. Louca para ter um automóvel, Charlie topa com um Fusca abandonado num ferro-velho.
Claro que não se trata de um Fusca normal, mas de Bumblebee, um robô que se refugiou na Terra depois de ver seu mundo destruído e acabou perdendo a memória e a habilidade de falar. “Penso em Charlie como alguém nos moldes de Ellen Ripley ou Sarah Connor, uma pessoa normal que tem algo de extraordinário dentro dela”, disse Knight. “Ela não é uma super-heroína. Se ela tem um superpoder, é sua empatia.”
Steinfeld, que concorreu ao Oscar aos 14 anos por Bravura Indômita, dos irmãos Coen, faz sua primeira protagonista numa produção dessa escala. “Nunca tinha estado num set como este, em que acontecem explosões e cenas de ação”, afirmou a atriz. “Mas, ao mesmo tempo, estamos contando a história desses personagens e de seu relacionamento, como se fosse um filme independente pequeno.”
Para o próprio diretor, foi um grande passo. “Tive de me recalibrar, porque estou acostumado a fazer cinema de maneira mais independente”, disse Knight. “Mas provavelmente a parte mais desafiadora foi não conhecer ninguém. Na Laika, trabalho com as mesmas pessoas há 15, 20 anos. Aqui, cada uma das pessoas da equipe era alguém que eu nunca tinha encontrado antes.”
Seu currículo na animação mais do que ajudou. Knight fazia storyboards com as cenas em que os robôs estavam envolvidos. “Assim as pessoas conseguiam ver o que estava no meu cérebro, porque eu sabia exatamente onde eles estavam e o que faziam. Foi ótimo quando, no meio das filmagens, o diretor de fotografia Enrique Chediak disse que agora conseguia enxergar o robô.”
Para Steinfeld, os desenhos foram fundamentais. “Se não fossem eles, eu estaria perdida até agora. Foi especialmente útil nas cenas em que havia muitos atores e o Transformer.”
Apesar de estar acostumado a passar emoção mesmo sem atores de carne e osso, o diretor tinha outro desafio aqui: Bumblebee perdeu a capacidade de falar, então aprende a se comunicar por meio da música. “Foi divertido e desafiador encontrar a música certa para cada momento, que tivesse a emoção correta. Mas, como cresci nos anos 1980, sabia que havia um catálogo rico de canções da época para explorar.”
Outro recurso fundamental foram os olhos de Bumblebee, que lembram muito o do personagem-título de E.T., o Extraterrestre, de Steven Spielberg. “Este filme foi meu guia”, disse Knight. “Eu assisti com minha mãe quando tinha oito anos, e foi a primeira vez que chorei no cinema. Ali aprendi que o cinema pode despertar empatia e nos fazer sentir coisas numa experiência compartilhada. Como Bumblebee se passa nos anos 1980, queria homenagear alguns dos clássicos dos estúdios Amblin (que incluem Os Goonies, Gremlins e De Volta para o Futuro) e também os filmes de John Hughes (como O Clube dos Cinco e A Garota de Rosa-Shocking), que via os adolescentes com sinceridade e simpatia.”
Nada mais diferente do que o som e a fúria dos Transformers anteriores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.