Em dezembro, quando os termômetros de rua marcam temperaturas próximas a 0ºC na capital dos EUA, há um espaço disputado nas calçadas de largas avenidas: a tampa dos bueiros, de onde emana o vapor quente que sobe da tubulação.
Sobre a saída de ar, um dos únicos refúgios quentes na calçada, moradores de rua dividem espaço na proximidade de prédios emblemáticos de Washington, como o Arquivo Nacional ou o Capitólio, sede do Congresso.
A região do bairro Noma, em Washington, a cerca de 15 minutos de caminhada do Capitólio, tem concentrações de acampamento de moradores de rua muito menores do que a californiana, mas também fixas. Ao menos 12 barracas embaixo de um dos viadutos da região formam um acampamento com quem se abriga da chuva e do frio.
Na semana passada, Siah Kamano distribuía sanduíches aos moradores com a ajuda de parentes. Nascida na Libéria, Siah se mudou aos EUA há 20 anos e diz ter ficado chocada com a quantidade de moradores de rua na capital. “Faço isso aqui. No meu país, quando vamos para lá, tentamos fazer a mesma coisa, pensar em como retirar as pessoas da rua”, afirma. Estima-se que entre 250 mil e 500 mil liberianos vivam nos EUA.
Siah e sua família levaram sanduíches e refrigerantes suficientes para todos ocupantes das barracas. Ninguém reclamou que os hambúrgueres estivessem frios.
Uma das barracas que recebeu o sanduíche comprado no McDonald’s foi o de Miss Bobby, que prefere não revelar seu nome real.
Aos 67 anos, Miss Bobby – como gosta de ser conhecida na região – mora na rua há pelo menos quatro e já é conhecida no local. Ela diz que o governo cortou seu registro de identificação para a previdência, sem explicar como isso aconteceu. Desde então, perdeu direito a aposentaria.
A identificação, o Número de Seguridade Social, é um dos requisitos para contratos de crédito. Sem família, aposentadoria ou chance de conseguir dinheiro emprestado, ela adotou o apelido de Miss Bobby e passou a viver na rua.
“É um país rico, mas nós não somos ricos”, diz. Ela rejeita frequentar os abrigos oferecidos pelo governo por causa das regras impostas nos locais e diz que tem tudo o que precisa em sua barraca, incluindo roupas para se proteger do frio.
Crescimento
A população de sem-teto nos EUA cresceu em 2018 pelo segundo ano seguido, após sete anos em queda. A variação foi pequena, de apenas 0,3%, mas a tendência de alta mobiliza as autoridades norte-americanas. Nova York e Califórnia são os Estados com maior número de desabrigados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.