A Orquestra Jovem do Estado de São Paulo completa 40 anos em 2019. Mas a temporada recém-anunciada sugere que a data redonda, na verdade, está sendo considerada como um ponto de inflexão em direção ao futuro. “Não podemos nunca esquecer a missão de formação que uma orquestra jovem tem e como isso nos apresenta desafios de preparar nossos alunos para o mundo contemporâneo e não para o passado”, diz Paulo Zuben, diretor artístico-pedagógico da Santa Marcelina Cultura, responsável pela gestão do grupo e da Escola de Música do Estado de São Paulo.
A data, claro, se presta a homenagens. O maestro John Neschling, criador do grupo em 1970, foi convidado a regê-lo, mas optou por não vir a São Paulo. O destaque da agenda é o repertório focado nos séculos 20 e 21. Além de gravar um disco dedicado a Claudio Santoro (com a Sinfonia nº 9), o grupo vai tocar obras de Berg (Três Fragmentos da Ópera Wozzeck), Ravel (Concerto Para Mão Esquerda), Dutilleux (Métaboles), Shostakovich (Sinfonia n.º 1), Barber (Meditação e Dança da Vingança do Balé Medeia), Strauss (Metamorfose), Varèse (Amériques) – e vai receber o compositor francês Bruno Mantovani e estrear peça de Rodrigo Lima.
Além de Claudio Cruz, diretor da orquestra, Ira Levin e Fabio Mechetti farão concertos. A abertura do ano, no dia 24 de fevereiro, será um programa com obras de Britten e Janácek e a presença do Quarteto Carlos Gomes como solista.
“O repertório da orquestra deve trazer os mesmos desafios técnicos e musicais do repertório que os alunos preparam nas aulas individuais, nas de música de câmara e naquelas que discutem análise e composição, por exemplo. Não há por que o repertório não trazer esses desafios também para que os alunos o executem na orquestra. A tradição dos séculos 18 e 19 deveria estar corriqueiramente ao lado da música dos séculos 20 e 21 em qualquer programação”, diz Zuben.
Segundo ele, os músicos participaram da escolha da programação. “Formar jovens para o século 21 significa participar das discussões, assumir que tocar a música do nosso tempo é um papel que todo músico atual deve ter, que o trabalho de música de câmara que fazemos paralelamente ao da grande formação orquestral é essencial, principalmente para o desenvolvimento individual dos alunos e a abertura de novas possibilidades para sua atuação profissional”. Outro desafio é a comunicação com o público. O grupo terá pela primeira vez um programa de assinaturas focado nos jovens (com a meia-entrada, o valor total para os 9 concertos do ano é R$ 128,25).
A Santa Marcelina criou também um programa de doações, com “o objetivo de aumentar o número de pessoas que participam e se envolvem com o nosso trabalho de formação musical e inclusão sociocultural”. “Pensando em todos os desafios orçamentários que temos e teremos pela frente, fica claro que o nosso maior desafio é garantir que teremos recursos para não apenas continuar nossas atividades, mas também ampliá-las. Com isso, o envolvimento da sociedade civil é importantíssimo para nós e para o setor cultural como um todo, seja por meio de doações, seja legitimando a importância da arte e da cultura na formação das pessoas”.
Foram lançadas duas campanhas, #DoeMúsica e a #AdoteMúsica. “A primeira com doações a partir de R$ 10. E a segunda com a possibilidade de destinação do imposto de renda para pessoas físicas e empresas, que nos ajudará com as bolsas-auxílio dos Grupos Infantis e Juvenis do Guri e as bolsas de estudos para os alunos dos Grupos Artísticos da Emesp”, explica Zuben. “Acredito que as diretrizes das políticas públicas nos próximos anos darão ênfase a uma maior integração dos programas na área de música para que tenham uma atuação mais sistêmica e eficiente, já que os recursos financeiros da Cultura continuam sendo muito poucos, e haverá uma obrigação maior de mostrarmos à sociedade a relevância dos investimentos feitos no setor, seja por meio de pesquisas de impacto social ou de análises de impacto econômico dos programas.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.