Desde o último dia 7 do mês de dezembro, quando foi ao ar uma das edições do programa Conversa com Bial, um nome tem sido o mais falado no Brasil inteiro (e até fora dele). O médium João de Deus, antes famoso por seus procedimentos de ‘curas espirituais’ agora ganha as manchetes como sendo alvo de inúmeros denúncias de abuso sexual e até de tráfico de drogas.
Uma força-tarefa do Ministério Público de Goiás (MP-GO), com a Polícia Civil (PC), diante dos inúmeros relatos e evidências, indiciou o médium pelo crime de violação sexual, e o mesmo está preso desde o último domingo (16/12).
Na última sexta-feira (21/12), o procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres Neto, e promotores integrantes da força-tarefa criada pelo MP-GO para investigar acusações contra João de Deus, divulgaram um novo balanço sobre a apuração dos fatos, até o momento. Além disso, informaram que novo pedido de prisão foi deferido pelo Judiciário em desfavor do investigado, desta vez por posse ilegal de armas de fogo.
O promotor enfatizou que o MP-GO tem realizado um trabalho de peso, ouvindo testemunhas, formando núcleos específicos para tratar da questão e dar uma resposta à sociedade, o que tem sido feito também de forma integrada com a PC.
A força-tarefa do MP foi instituída pelo procurador-geral de Justiça no dia 10 de dezembro, e foi ampliada, tendo agora como integrantes os coordenadores dos Centros de Apoio Operacional Criminal e de Direitos Humanos, Luciano Meireles e Patrícia Otoni; o coordenador do Gaeco, Thiago Galindo; e os promotores de Justiça Cristiane Marques, Gabriella de Queiroz (membro do Gaeco), Paulo Penna Prado (subcoordenador do CAO Criminal) e Augusto César Borges.
Confira o balanço detalhado do caso de João de Deus até agora
Conforme apontou Luciano Meireles, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do MP-GO e membro da força-tarefa que investiga João de Deus, foram feitos 596 contatos pelo e-mail criado pela instituição especificamente para essa investigação. Destes foram identificadas 255 possíveis vítimas do médium, tendo sido ouvidas formalmente 75 em Goiás e em outros estados até o momento.
Dentre as vítimas identificadas, cujas mensagens foram encaminhadas exclusivamente para o canal de comunicação do MP-GO, estão as originadas de Brasília (39), de Goiás (21), do Rio Grande do Sul (20), Espírito Santos (11), Minas Gerais (15), Rio de Janeiro (7), Paraná (6), Santa Catarina (4), Mato Grosso (3), Mato Grosso do Sul (1), Maranhão (1), Pernambuco (1), Piauí (1) e Tocantins (1). As mensagens encaminhadas ao MP também vieram do exterior, como listaram os promotores, sendo elas dos Estados Unidos (4), da Austrália (3), da Alemanha (1), da Bélgica (1), da Bolívia (1) e da Itália (1).
Destas 255 pessoas identificadas, 23 tinham entre 9 e 14 anos na ocasião dos fatos; 28 entre 15 a 18 anos, e 70, com idade de 19 a 67 anos. Conforme adiantaram os promotores, os próximos passos incluem, além da continuação das oitivas das vítimas, o depoimento do próprio investigado e a apresentação de denúncia criminal de, pelo menos, três casos, cujos crimes são o de estupro, violência sexual mediante fraude e estupro de vulnerável.
Médium se aproveitava da fé das fiéis para abusar delas, diz MP
Os promotores declararam que o médium se valia da fé dos frequentadores, segundo relato das vítimas ouvidas; do respeito que elas tinham por ele; e da fragilidade das pessoas que, muitas, vezes estavam com graves doenças.
Neste sentido, Patrícia Otoni, que coordena o Centro de Apoio Operacional e é integrante da força-tarefa, destacou a preocupação que o MP tem tido para com as depoentes.
Ela informou que antes mesmo dos depoimentos, as vítimas são atendidas por uma psicóloga da instituição, sendo a oitiva, que é feita por promotoras, acompanhada por essa profissional. Após essa etapa, as vítimas também são direcionadas à rede de atendimento psicossocial de seus municípios.
Busca e apreensão nas propriedades de João de Deus
A Polícia Civil (PC) de Goiás apreendeu na última terça-feira (18/12) uma mala cheia de dinheiro em espécie, tanto nacional quanto estrangeiro, além de armas de fogo na casa do médium João de Deus, em Abadiânia. Na Casa Dom Inácio de Loyola, onde eram feitos os atendimentos espirituais e que também foi alvo de buscas feitas pela corporação, foram apreendidos recibos e outros documentos.
De acordo com a PC, foram encontradas cinco armas de fogo de calibre permitido, aproximadamente R$ 257.680 reais, mais de 15 mil euros, 990 dólares australianos além de outros tipos de moeda estrangeira, em menor quantidade.
O material foi encaminhado para a Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), unidade responsável pelas investigações.
Eesta sexta-feira (21/12), foi realizada nova busca na casa de atendimento do médium, em Abadiânia, para complementação do levantamento estrutural do empreendimento, em operação que envolveu a Polícia Civil e a Superintendência de Vigilância Sanitária. Segundo informou a promotora de Justiça Gabriella de Queiroz, que esteve no local com a coordenadora do CAODH, Patrícia Otoni, foram apreendidos novos materiais, cuja especificação será detalhada pela PC, quando do término dos trabalhos.