Uma reforma que já acumula atraso de dois anos tem prejudicado o atendimento no Instituto Emílio Ribas, unidade de referência no País no atendimento a pacientes com doenças infecciosas, principalmente HIV/Aids. O corte de recursos públicos nos últimos três anos faz a obra, prevista para terminar em 2016, se arrastar até hoje. A reforma levou à desativação de quase metade dos leitos do hospital e da área de ressonância magnética, inoperante há dois anos.
O quadro ficou mais grave há dois meses, quando o aparelho de tomografia quebrou, deixando o hospital sem exames de imagem de maior precisão. O cenário fez os médicos residentes da unidade paralisarem as atividades durante a terça-feira e exigirem da direção do hospital solução para os problemas.
A direção do centro médico fez reunião com os manifestantes, expondo solução para alguns dos problemas, e marcou nova reunião com os profissionais para o dia 20. À reportagem, a direção afirmou que nenhum paciente ficou sem atendimento e planos de contingência foram criados para minimizar as consequências da reforma (mais informações abaixo).
Os residentes afirmam que, além dos problemas criados pela reforma, o hospital sofre com falta de ambulâncias, medicamentos e insumos.
Atraso
De acordo com Natanael Adiwardana, coordenador-geral da Associação dos Médicos Residentes do instituto, problemas simultâneos nos aparelhos de ressonância e tomografia atrasam o diagnóstico e o início do tratamento de pacientes com infecções graves.
“Às vezes precisamos transferi-los para outras unidades estaduais só para fazer o exame para podermos fechar o diagnóstico. O problema é que nem sempre é fácil encontrar vagas em outras unidades. Nem todas as ambulâncias têm condições de transportar os pacientes mais críticos”, declarou.
O paciente B.M, de 30 anos, foi um dos que precisaram ser levados a outro centro de saúde para passar por ressonância. Diagnosticado com HIV em 2016, ele procurou o pronto-socorro do Emílio Ribas no início de agosto com muita dor de cabeça. “A suspeita era de neurotuberculose, mas não tinha como confirmar porque não tinha ressonância”, conta ele.
Com o auxílio de outros exames, os médicos iniciaram o tratamento com base na hipótese diagnóstica e confirmaram o quadro 14 dias depois, quando B.M. foi levado ao Instituto do Câncer do Estado de São Paulo para fazer o exame que confirmaria a doença. “Eu acabei tendo de ficar internado alguns dias extras até conseguir confirmar que era isso mesmo que eu tinha”, conta ele.
Para Eder Gatti, infectologista do hospital e presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), a reforma também prejudicou o processo de internação, por causa da redução do número de leitos (de 199 para os 108 ativos), e a realização de exames laboratoriais.
Improvisado
“Tivemos nossa capacidade de hospitalização reduzida e o laboratório teve de ser improvisado em outro lugar. Algumas amostras do Emílio Ribas são levadas agora ao laboratório do Hospital das Clínicas”, diz ele, que critica ainda o corte de verba à saúde. O orçamento anual da unidade, segundo a direção do instituto, caiu de R$ 15,4 milhões há três anos para R$ 14,2 milhões hoje.
Assistência mantida
O diretor técnico do Instituto Emílio Ribas, Luiz Carlos Pereira Junior, confirmou que alguns leitos e áreas tiveram de ser interditados por causa da reforma. Mas ele ressaltou que nenhum paciente ficou sem atendimento no período.
“Continuamos recebendo todos os pacientes que chegam ao pronto-socorro. Quanto aos exames, no período que estivemos sem ressonância e tomografia, tivemos acesso a vagas para fazer os exames em outros hospitais, como no Instituto do Câncer, Hospital Brigadeiro e Hospital do Mandaqui”, destacou ele, que disse que o aparelho de tomografia voltou a funcionar na segunda-feira.
Ele afirmou ainda que o hospital tem três ambulâncias em bom estado e que, quando necessário, pede apoio à central de regulação de vagas da Secretaria Estadual da Saúde para remoção de pacientes críticos. Pereira Junior disse também que o laboratório, embora adaptado em outro local, segue todos os padrões de qualidade exigidos. Ele destacou que o hospital não sofre com falta de insumos nem medicamentos.
Sobre o atraso da obra, o diretor do Emílio Ribas afirmou que, com o corte de recursos gerado pela crise econômica que o País atravessa, o ritmo da obra teve de ser reduzido, mas foi acelerado no ano passado.
Ele diz que a primeira fase da reforma já foi entregue em 2017 e a segunda deverá ser concluída nas próximas semanas. A conclusão da terceira e da última parte ainda não têm data definida, segundo a direção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.