A cúpula do PSDB vai pressionar o senador Aécio Neves (MG) a se afastar do partido, mesmo que temporariamente. Uma das ideias em estudo para evitar a expulsão de Aécio, eleito deputado federal, é que ele peça uma licença partidária. Em conversas reservadas, dirigentes tucanos avaliam que, se ele não fizer isso, acabará sendo obrigado a deixar a sigla.
A estratégia para evitar que a crise envolvendo Aécio aumente ainda mais o desgaste do PSDB foi discutida nesta terça-feira, 11, quando a Polícia Federal e o Ministério Público cumpriram mandados de busca e apreensão em imóveis de Aécio, no Rio e em Minas.
Instalada pela PF, a Operação Ross investiga denúncia de que a JBS teria pago propina de R$ 128 milhões ao tucano e a seus aliados, de 2014 a 2017, tendo parte dessa cifra servido para alimentar a compra de apoio político na campanha eleitoral de quatro anos atrás. As delações do empresário Joesley Batista e de outros executivos do grupo J&F também indicam o pagamento de uma “mesada” de R$ 50 mil ao senador. Aécio nega e diz não poder aceitar que “delações de criminosos confessos e suas versões se sobreponham aos fatos”.
Nos bastidores, deputados do PSDB asseguram que, se alguma representação contra Aécio der entrada no Conselho de Ética do partido, a tramitação será muito rápida e a expulsão, bastante provável porque os tucanos querem mostrar à sociedade que não compactuam com malfeitos. O colegiado foi criado há menos de duas semanas e é presidido pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), que foi secretário da Casa Civil do governo de Geraldo Alckmin em São Paulo.
Diante desse cenário de revolta na bancada do PSDB, aliados de Aécio propõem como alternativa a licença partidária para que ele possa se explicar, evitando mais uma “contaminação” da legenda. A situação do senador é considerada “crítica” até mesmo por seus amigos. Desde as primeiras denúncias contra Aécio, que presidia o PSDB e foi obrigado a passar o bastão, no ano passado, o partido vem enfrentando um problema atrás do outro. Na esteira da crise, o ex-governador Alckmin, que comanda a legenda, perdeu a eleição para o Palácio do Planalto.