Inaugurada este ano, a Casa Roberto Marinho, no Rio, inaugura nesta quinta-feira, 6, a sua segunda grande exposição, focada na abstração informal e com parceria com o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM. O instituto abre ainda, em sua sede, uma mostra de artistas modernistas, com obras de seu próprio acervo.
Oito Décadas de Abstração Informal conta com 41 obras da CRM e 37 do MAM. A curadoria também é dividida entre as duas instituições, entre o diretor do instituto carioca, Lauro Cavalcanti, e o curador do museu paulista, Felipe Chaimovich. São obras de precursores do movimento, como Maria Martins, Iberê Camargo e Maria Bonomi, e também de artistas contemporâneos, como Leda Catunda, Ernesto Neto e Luiz Aquila.
“A exposição começa nos anos 1940, com Vieira da Silva, e acompanha a vertente até os dias de hoje”, explica Cavalcanti. “O que nos motivou a falar de abstracionismo informal é que a corrente estava muito fora de foco, acho que o sucesso do abstracionismo construtivo, de certo modo, desviou a atenção dessas obras mais subjetivas.”
Para falar sobre os cerca de 80 anos da vertente, os curadores decidiram montar a exposição de forma cronológica. As obras mais antigas, do período pós-guerra, fazem parte do acervo do jornalista Roberto Marinho, morto em 2003. São trabalhos de Manabu Mabe, Tomie Otake e Antonio Bandeira, realizados entre as décadas de 1940 e 1960.
“O impacto da abstração informal no Brasil, entre as décadas de 1940 e 60, foi suficientemente profundo para sobreviver ao experimentalismo em arte, a partir dos anos 1970”, afirma, em comunicado, o curador Felipe Chaimovich. “Apesar de não figurar utopias, a abstração informal atenta para cada singularidade do gesto artístico ou da matéria plástica, ainda que torta, precária ou parcial, mostrando-se uma estratégia viva de resistência à homogeneização da cultura”, completa.
Para Cavalcanti, foi criada, no País, uma certa rivalidade entre os diferentes tipos de abstracionismo. “Embora o Brasil goste de se descrever como inclusivo, há uma queda ao dualismo, rivalidade e exclusões”, opina o diretor da CRM. “As duas correntes se justificavam porque o construtivo tinha uma tendência socializante, ligada à indústria, à esquerda, e o informal era muito definido como individualista, mais elitista, o projeto artístico por si só.”
Ainda segundo Cavalcanti, hoje, porém, a situação mudou. “A arte contemporânea dissolve as divisões, já não faz mais sentido.” Boa parte dos trabalhos mais recentes da mostra, que se adentram pelo século 21, fazem parte do acervo do MAM de São Paulo, como trabalhos de Nuno Ramos, Thiago Rocha Pitta e Lucia Laguna.
Apesar do viés cronológico, alguns artistas aparecem bastante na exposição e ganharam salas especiais, como Antonio Bandeira e Vieira da Silva. Uma das obras de da Silva, aliás, está entre as mais antigas, uma tela de 1949. Já uma das esculturas de Maria Martins data de 1954. Por falar em esculturas, há ainda mais três na mostra, uma de Angelo Venosa, outra de Márcia Pastore e uma terceira de Frida Baranek.
Modernismo
Grande parte do acervo de Roberto Marinho é de arte moderna, afinal de contas, ele viveu o período, conheceu os artistas da época e começou a construir sua coleção já naqueles anos. Por isso, apesar das exposições de temas diversos no andar superior da CRM, como a de abstracionismo informal, a organização do instituto optou por realizar, no andar térreo, apenas exposições voltadas ao modernismo.
“A coleção tem em torno de mil obras”, afirma Cavalcanti. “Numa estimativa, diria que de 70 a 80% são de arte moderna, de artistas contemporâneos ao próprio Roberto.” Grande entusiasta de arte, o jornalista, por exemplo, era um dos maiores colecionadores de José Pancetti, segundo o diretor da CRM.
Por isso, durante o mesmo período de exibição de Oito Décadas de Abstração Informal, a Casa Roberto Marinho vai realizar, também, a exposição Modernos +, com 44 obras do acervo do jornalista. São pinturas, esculturas e serigrafias, selecionadas a partir de quatro recortes temáticos: infância, flores, trabalho e religião.
“Havíamos feito uma exposição com expoentes do modernismo, então a ideia é mostrar agora obras que não haviam sido exibidas”, explica Cavalcanti. “Como a arquitetura original da casa foi preservada, muitos trabalhos estão nos lugares originais, como obras de Portinari, Djanira da Motta e Silva e Lasar Segall.”
Serviço
Oito Décadas de Abstração Informal e Modernos +’: Instituto Casa Roberto Marinho (RJ), R. Cosme Velho, 1105. Tel. (21) 3298-9449. 3ª a dom., 12 às 18h. R$ 10. Até 9/6.