Nenhum latido vai conseguir expressar a dor da cachorrinha que comove o Brasil nos últimos dias desde que foi morta por um segurança do Carrefour, um dos maiores hipermercados do país, em Osasco, na Grande São Paulo. A agressão ocorreu na manhã do último dia 28 de novembro.
Com pelo branco e um preto rajado, abandonado, o animal foi conduzido para a morte brutal, atraído por um pedaço de mortadela: recebeu várias pancadas com uma barra de ferro. Descobriria-se depois que o animal também sofreu do silencioso crime que mata animais domésticos todo dia: o envenenamento.
Qualquer um que assista ao vídeo que mostra a cachorrinha indo, desconfiada, retraída, rabo entre as pernas, focinho triste, para a saída do estacionamento do Carrefour, percebe o pressentimento ruim dela. Alguns segundos depois, ela reaparece na imagem, espancada, sangrando.
O animal corre, gritando um grito de cadela ferida, para dentro de uma loja. Deixa para trás o rastro de sangue em formato de patinhas.
Cadela é socorrida, mas perde muito sangue e morre após agressão no Carrefour
Logo depois, é capturada pelo Zoonoses. Sob protestos, a cadela é atendida, mas não escaparia por causa do sangue que perdeu. Em fotografias, o animal aparece lambendo os ferimentos. Tenta estancar o sangue que jorra pelo que causou a brutalidade. Mas ela sangrou até a morte.
Vomitou pedaços de mortadela envenenada.
No vídeo sem áudio, é possível ver o espanto covarde de quem vê a cachorra de rua mancando após a agressão. O agressor? O segurança do supermercado, conforme divulgado pela imprensa, a mando do chefe, queria dar fim ao animal.
Segundo relato de Isabela Marcelino, que fez a denúncia em um post do Facebook, o chefe mandou o segurança sumir com ela dali porque gente importante do hipermercado apareceria por lá.
Como se as orelhas atentas, o rabo balançando, e a alegria da cachorrinha fossem tão ofensivas quanto as pancadas que a mataram.
As redes sociais fervilharam revolta. O assunto foi um dos mais comentados no Twitter e páginas de proteção aos animais e de artistas pediam a punição dos culpados.
Pressionada, a rede de hipermercados emitiu uma nota nada convivente, como se amenizasse as pancadas que fizeram a cadela sangrar até a morte.
Embora diga que repudie “qualquer tipo de maus-tratos contra animais”, o Carrefour prefere culpar o Centro de Zoonoses de Osasco. Escreve que acionou o órgão “por diversas vezes”. Sem política de proteção aos animais que circulam por ali em busca de pessoas que passam e deixam petiscos, a rede queria se ver livre da cachorrinha.
A mesma nota tenta esconder o que as imagens mostram: uma cadela indefesa, encurralado, agredida violentamente. “Um funcionário de empresa terceirizada tentou afastá-lo da entrada da loja e imagens mostram que esta abordagem pode ter ocasionado um ferimento na pata do animal.”
Para tentar limpar a barra, quem ligou ao Zoonoses ainda mentiu, dizendo que o animal tinha sido atropelado. Para evitar agressão, inclusive de funcionários do hipermercado que alimentavam o animal desde que ele apareceu por lá, há cinco dias, o segurança saiu de fininho do expediente mais cedo.
Este segurança teria um cachorrinho em casa, para trazer alegria aos filhos? Para lhe dar carinho após um dia duro de trabalho? Ou pelo menos ele teria um cachorrinho na memória da infância? Aquele cachorrinho que ele teria implorado aos pais para adotá-lo?
Ele vai conseguir passar a mão em um cachorro outra vez? Deixá-lo lamber suas mãos e deitar sobre seus pés?
De terno, como diz os Racionais, está vertido o diabo. Priorizar qualquer coisa senão a vida de um animal que espera apenas o amor é coisa má. Coisa do cão – do de baixo.
O que se sabe é que aquele latido do triste fim de uma cachorrinha abandonada não vai ser em vão. O choro, o latido, o sangue, representam vários cães espancados e envenenados em cada esquina de um Brasil cruel. Auauau!