Os “coletes amarelos” (“gilet jaunes”, no francês) tomaram as ruas da França nos sábados 17 e 24 de novembro e de 1º de dezembro em diante contra o aumento nos impostos sobre os combustíveis e em busca de melhor custo de vida. Com mais de 420 mil manifestantes e um alto número de feridos em confronto com a polícia, os protestos dos coletes amarelos são considerados os mais violentos desde 2005 no país.
A origem do nome “coletes amarelos” vem da jaqueta de sinalização de trânsito que, pela legislação federal francesa, todos os carros da França devem transportar para o caso de acidentes. Hoje, a vestimenta é o símbolo do movimento, que afirma não ter líderes e ser organizado pelas redes sociais.
O que reivindicam os coletes amarelos?
“É difícil chegar ao fim do mês. As pessoas trabalham e pagam muitos impostos, e nós estamos cheios”, disse Rabah Mendez, um manifestante que marchou pacificamente por Paris no dia 1º de dezembro.
O aumento de seis centavos de euro no imposto sobre a gasolina e o diesel, programado para ser implementado em janeiro de 2019, foi a gota dágua para os franceses. A medida foi anunciada pelo governo do presidente Emmanuel Macron, que adotou uma agenda verde. Segundo ele, a taxação contribuiria para desestimular o uso de combustíveis fósseis e a emissão de gases poluentes na França.
Neste ano, o governo da França havia taxado o imposto em sete centavos em meio a uma subida no preço do barril do petróleo no comércio mundial. Em Paris, a gasolina chegou a custar 1,64 por litro em 2018, equivalente a R$ 7 no Brasil, aproximadamente.
Mesmo depois de Macron revogar por seis meses o aumento do imposto – cedendo à pressão dos manifestantes após três semanas de protestos -, os coletes amarelos afirmam que continuarão a se mobilizar em busca a melhora do custo de vida.
“Nós queremos uma melhor distribuição de riqueza, aumentos salariais”, disse Benjamin Cauchy, um dos porta-vozes do movimento. “É sobre toda a baguete, e não migalhas.”
Os primeiros protestos
No dia 17 de novembro, estradas foram bloqueadas com barricadas e 280 mil pessoas foram às ruas vestindo jaquetas fluorescentes de sinalização de trânsito. O movimento começou na internet, encampado por motoristas do interior da França que precisam de automóveis para se locomover.
O segundo protesto, dia 24 de novembro, levou menos gente para as ruas, 106 mil, e acabou com 103 prisões. Na época, Macron havia anunciado que o valor do combustível flutuaria conforme a oscilação no preço do barril de petróleo.
“Aprendi nos últimos dias que não devemos deixar o rumo quando é o correto”, acrescentou o presidente, tentando conciliar as reivindicações sociais com as ecológicas.
Uma semana depois, os protestos de 1º de dezembro levaram mais de 166 mil coletes amarelos para as ruas e terminaram com 206 presos e mais de 400 feridos. Nesse dia, foram feitas 130 barricadas e 112 veículos foram queimados. O monumento histórico do Arco do Triunfo, importante ponto turístico da cidade, foi depredado e pichado.
Mortes no protestos
Há pelo menos quatro mortos desde o início das manifestações. A primeira vítima morreu no dia 17 de novembro: uma mulher foi atropelada por um motorista que entrou em pânico e acelerou quando se viu cercado pelos coletes amarelos.
A vítima mais recente foi uma senhora de 80 anos de idade, que estava fechando as cortinas do seu apartamento quando uma bomba de gás lacrimogêneo caiu em sua sala. Ela foi levada para o hospital, mas morreu no sábado 1º de dezembro, durante uma cirurgia.
Apoio da população aos coletes amarelos
Dois em cada três franceses apoiam as manifestações dos coletes amarelos, segundo a pesquisa de opinião Opinion Way, lançada na quarta-feira 28 de novembro. E 78% da população pensa que as medidas tomadas por Macron para limitar o impacto do aumento são insuficientes.
A popularidade de Macron está em baixa, de acordo com a pesquisa do Ifop-Fiducial divulgada nesta terça-feira, 4, pela revista Paris Match e pela Sud Radio. No levantamento feito na semana passada, o total de franceses que apoiam o presidente caiu para 23%, 6 pontos porcentuais abaixo do registrado no mês passado. (Com agências)