Pelo retrospecto, o norte-americano Brad Silberling não é exatamente um diretor capaz de animar expectativas a priori. Filmes como “Gasparzinho, o Fantasminha Camarada” e !Cidade dos Anjos” – o remake hollywoodiano de “Asas do Desejo” – flertam com a morbidez e ainda são arrastados, para dizer-se o mínimo. Silberling assina agora seu trabalho mais ambicioso, o que não significa que seja melhor – “An Ordinary Man” (Um Homem Comum).
Não se deixe enganar pelo título. Ben Kingsley, que já foi o humanitário Gandhi, é tudo, menos um homem comum. Interpreta agora um militar sérvio condenado por crimes contra a humanidade na Guerra da Bósnia. Ele vive fugindo, e trocando de endereço, sempre escondido. Entra em cena a garota, que ele contrata para atender o serviço doméstico da casa. É interpretada pela novata Hera Hilmar, que não se intimida nem um pouco de contracenar com um ator gigante como Kingsley.
Centrado nos dois personagens, com raras cenas externas, “Um Homem Comum” parecerá a muitos espectadores teatro filmado, embora não seja. Existem mesmo algumas belas cenas na natureza – o filme é lindamente fotografado (por Magdalena Górka), tem uma boa trilha (de Christophe Beck), é relativamente curto, apenas 92 min. Tudo isso pode encorajar o público, e é certamente interessante acompanhar o embate dos dois protagonistas. Pois se trata de um embate. O ‘general’ é arrogante, assedia a garota, humilha-a. Ela não se curva perante o monstro.
Hannah Arendt escreveu sobre o que a interpretação de Kingsley termina por ilustrar, a banalidade do mal. O filme volta e meia fraqueja. Talvez o que Silberling esteja querendo é humanizar o carrasco de seu filme. A garota é, de longe, muito mais interessante. É a responsável pelo impacto do desfecho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.