A agência antidrogas do Peru (Devida) detectou uma mudança no perfil da produção de coca, com aumento da produção nas áreas fronteiriças com Brasil, Colômbia e Bolívia. “O Brasil está movendo o mapa da coca e do narcotráfico”, disse o diretor da Devida, Rubén Vargas, ao apresentar os dados em Lima para jornalistas na terça-feira, dia 27.
“Fica claro para nós que há um aumento de cultivo em áreas de fronteira: no Baixo Amazonas, em Caballococha – tríplice fronteira com Colômbia e Brasil -, na Província de Sandía – região de Puno, fronteira com Bolívia, embora bem conectada com o Brasil pela Rodovia Interoceânica Sul – e na região de Madre de Dios – fronteiriça com Brasil e Bolívia”, acrescentou Vargas.
Apesar disso, não há dados concretos que indiquem quanto da cocaína produzida no Peru anualmente é consumida em Brasil, Argentina e Chile e o quanto é exportada nesses três pontos de passagem para Leste da Ásia, Europa, Oceania e sul do continente africano.
A maior parte da produção de coca no Peru ainda está concentrada na região conhecida como Vraem – os vales dos rios Apurímac, Ene e Mantaro -, que reúne as províncias de Apurímac, Ayacucho, Cusco, Huancavelica e Junín.
Investimento
O governo do presidente peruano, Martín Vizcarra, pretende investir US$ 5,5 bilhões nos próximos três anos em obras de infraestrutura na região para combater o cultivo de coca. “O Vraem não deve ser conhecido como uma zona de guerra”, disse. “Temos 60 distritos nos quais precisamos trabalhar por desenvolvimento e cidadania.”
Ainda de acordo com o Devida, os projetos devem replicar experiências de sucesso contra o plantio de coca em outras zonas do país, como Alto Huallag e San Martín. Elas consistem no desenvolvimento sustentável, criação de empregos e assessoria agrônoma.
“Temos de construir estradas e viadutos. Senão, não adianta fomentar cultivos alternativos”, ressaltou. O plano contempla 2.974 projetos, entre construção de escolas, postos de saúde e rodovias.
Segundo relatório do Escritório da ONU para Drogas (UNODC) de 2017, a produção de cocaína nos três países – Colômbia, Peru e Bolívia – vem crescendo desde 2015 e já atingiu o mesmo nível de 2008. Com o aumento da produção e mais cocaína disponível no mercado, o UNODC vem registrando um aumento no consumo em várias partes do mundo.
No Peru, o mercado ainda está bastante associado ao grupo maoista Sendero Luminoso, que controla áreas remotas de regiões produtoras de coca. Na quarta-feira, 28, Vargas disse estar confiante de que o Exército conseguirá desmantelar os remanescentes da guerrilha.
Produção
No balanço divulgado pelo Devida, a entidade ainda desmentiu um relatório recente do governo americano, que estimou em 491 toneladas a produção anual de cocaína do Peru. Segundo Vargas, no entanto, não é possível divulgar um número exato porque o relatório de 2018 sobre drogas no país ainda não foi concluído.
De acordo com o relatório anual sobre controle de drogas do Departamento de Estado americano, publicado em março, o Peru é o segundo maior produtor de cocaína e o segundo maior cultivador da folha de coca no mundo, depois da Colômbia. A Bolívia é o terceiro. Os EUA são o maior mercado da droga. (Com agências internacionais). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.