Durante as primeiras horas da manhã desta terça-feira (27/11) a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Grande Família, que investiga fraudes no programa Bolsa Família na capital. Os dados da operação foram divulgados durante entrevista coletiva, na sede da PF em Goiânia, embora as cifras não tenham sido reveladas, o valor pode ultrapassar milhões apenas em Goiânia. A PF contou com a parceria da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) de Goiânia.
O delegado da PF, James Soliz, afirmou durante coletiva de imprensa que a própria SEMAS encaminhou as suspeitas de irregularidades no programa aos investigadores. A primeira etapa da operação procurou por documentos, que indicaram a participação de servidores municipais no esquema.
Segundo o delegado, na casa de uma pessoa que não teve o nome divulgado, os policiais encontraram mais de 200 carteiras de identidades falsificadas e diversos cartões do Bolsa Família. Durante a operação, o suspeito confessou que a documentação era falsa e que em alguns momentos conseguiu sacar os recursos do benefício.
“O fraudador contou que procurou funcionários da secretaria, oferecendo vantagens para que eles pudesse colaborar com a fraude”, conta o delegado.
Como foi a primeira fase da operação, foram cumpridos mandados de busca e apreensão, inclusive na sede da SEMAS. Segundo a PF, ninguém foi preso. Apenas documentos e computadores foram levados pela PF, para complementar a investigação e para que depois os envolvidos possam ser indiciados.
Entre os beneficiados com o esquema, a PF conseguiu identificar uma funcionária da SEMAS, que recebia o auxilio, sem preencher os requisitos necessários para ser beneficiária do Bolsa Família. Além dela, o fraudador, um outro servidor municipal, compareceu a PF, prestou esclarecimentos e foi liberado.
“O Bolsa família como está implantado hoje, não só ele, mas o seguro desemprego, gera várias oportunidades para que as pessoas possam fraudar. Na verdade é um verdadeiro queijo suíço. Então é preciso implementar ações para modificar a forma de concessão e a fiscalização, pois da forma como esta hoje, ela propicia a frade”, comenta James Soliz.
O número de servidores envolvidos no esquema e de pessoas indicadas pelo fraudador para captar os recursos não foram divulgados.
Entretanto, o fraudador segundo o delegado, está indicando alguns nomes, que vão ser chamados para prestar esclarecimentos. Depois de todo o levantamento feito, a PF vai pedir o indiciamento dos envolvidos e encaminhar o processo para o Ministério Público (PF).
Inicialmente o suspeito vai ser indiciado por estelionato, enquanto os servidores municipais, vão ser indiciados pelo crime de inserção de dados falsos no sistema.
“Por exemplo na casa do fraudador, nós encontramos a imagem de uma só pessoa, em mais de 30 RG’s, dessa forma a pessoa ganhava uma ajuda do Bolsa Família e o restante fica para ele”, conta o delegado.
Como era feita a fraude no Bolsa Família em Goiânia
O delegado conta que até o momento não foi possível identificar o montante em Goiás, mas acredita que deva passar dos milhões e que agora aguarda um levantamento feito pela Caixa Econômica Federal (CEF) para saber real valor desviado do programa na capital.
“Eles cadastravam a pessoa no programa, depois alteravam o endereço para um indicado pelo fraudador, ele pegava o cartão, desbloqueava e recebia o dinheiro. Depois voltava a alterar o endereço, enquanto a pessoa estava aguardando o cartão. O beneficiário então recebia o cartão e imaginava que a partir dali estava recebendo. Quando o fraudador já tinha recebido os valores do Bolsa Família em outros momentos”, explica James Soliz.
A polícia vai esperar o levantamento da CEF, que vai ser feito com números do Cadastro de Pessoa Física (CPF) e da inscrição social no programa. Segundo as informações divulgadas, beneficiários da Bahia, tiveram os endereços transferidos para Goiânia, e também foram vítimas da fraude.
Secretário de Assistência Social de Goiânia – Robson Azevedo
O secretário de assistência social de Goiânia, Robson Azevedo, esteve na coletiva e contou que a secretaria abriu uma sindicância para apurar as irregularidade e identificou que algo que estava errado.
“Uma vez identificado nessa primeira fase provas de fraude, nós vamos continuar a investigação, aprimorar os nossos mecanismos fiscalizadores, para identificar novas e possíveis fraudes, que vão ser encaminhadas para a polícia Federal”, conta o secretário.
Robson Azevedo explicou que o cadastro no programa é feito apenas por servidores municipais, que recebem um curso e uma senha para fazer os cadastros. Em relação aos servidores que estiveram na sede da PF, para prestar depoimento, a secretaria abriu uma sindicância interna, para a partir dela definir o futuro dos funcionários envolvidos, que podem receber uma advertência ou ser demitidos.
“Quero ressaltar a importância do programa, ele é para destinar recursos para aquela família realmente carente, que não tem nem o que comer direito. Então é preciso que esse novo governo federal, faça realmente uma auditoria e identifique as reais necessidades do projeto, que são os beneficiários. Por que se não fica fica ai alguns espertalhões recebendo o benefício e tirando o dinheiro de que precisa e isso é muito grave”, frisa o secretário.
Segundo o secretário, no Brasil a fraude no programa pode ultrapassar a casa de R$ 1 bilhão de reais, mas em Goiânia os números podem passar da casa dos milhões. Como a operação está na fase inicial, Robson Azevedo acredita que outras fases vão propiciar a polícia, identificar outras pessoas envolvidas e assim acabar com a fraude na capital.
“Precisamos manter os mecanismos de fiscalização, porquê até agora a gente estava acreditando que estava acontecendo tudo normal. E o aparecimento das denúncias e o nosso interesse de investigar é que chegamos nesse momento atual, então fico feliz por essa ação, mesmo cortando na própria carne. Mas acho isso extremamente importante, pois nós temos que ser corretos com o bom encaminhamento do dinheiro público”, conclui Robson Azevedo.