Há cinco anos um grupo formado por historiadores de arte e críticos prepara o catálogo da coleção pertence à Fundação Edson Queiroz de Fortaleza. Nesta segunda-feira, 26, a partir das 19 horas, os dois volumes desse catálogo, publicados pela instituição em conjunto com a Universidade de Fortaleza e Edições Pinakotheke, serão lançados em São Paulo, no Instituto Itaú Cultural, com uma palestra do colecionador e editor Pedro Corrêa do Lago, intitulada Uma Coleção Excepcional. O superlativo é mais que justo em se tratando de uma coleção de 870 obras catalogadas e que cobre praticamente todos os períodos da história do Brasil, desde o período colonial até o contemporâneo. Nesse acervo é possível contemplar tanto obras raras do século 17 – paisagens do holandês Frans Post e do barroco flamengo Gillis Peters, por exemplo – como esculturas do contemporâneo pernambucano Tunga (1952-2016), passando pelos pintores modernistas.
O foco da coleção, aliás, são os artistas modernos. Há obras de Portinari provenientes de leilões internacionais, como Família (óleo de 1939), um Di Cavalcanti que participou da 10.ª Bienal de São Paulo (Figura Feminina com Criança, da década de 1930) e um Ismael Nery que já viajou pela Europa (Figuras Sobrepostas, circa 1926), entre tantas obras que foram emprestadas pela Fundação Edson Queiroz para exposições importantes realizadas fora do Ceará. Para ficar num único exemplo de obra requisitada por mostras históricas, basta citar a primeira versão (0.75 x 1.05) de A Primeira Missa do Brasil, de Victor Meirelles, pintada na Europa em 1862 – a versão maior (2.70 x 3.57) está no Museu Nacional de Belas Artes. A icônica tela de Meireles, reproduzida em todos os livros escolares, foi a principal obra da exposição comemorativa dos 500 anos do Brasil no prédio da Bienal (no ano 2000).
Se depender da nova presidente da Fundação Edson Queiroz, Lenise Queiroz Rocha, que substituiu o irmão Ayrton, morto em 2 de julho do ano passado, as obras continuarão viajando pelo Brasil. Em Fortaleza, elas integram a exposição Da Terra Brasilis à Aldeia Global, com curadoria da crítica Denise Mattar, que ocupa até o primeiro semestre do próximo ano as dependências da Universidade de Fortaleza, mantida pela Fundação. Em nove módulos, o visitante pode ver, entre as 274 obras expostas, desde as citadas pinturas de Frans Post até contemporâneos como Leonilson, passando por artistas de outros séculos, como Rugendas, Eliseu Visconti, Guignard, Milton Dacosta e Volpi.
Essa diversidade será mantida na atual gestão de Lenise, segundo a presidente da Fundação. “Apesar de ter como foco os modernistas, podemos contar toda a história do Brasil por meio das obras da coleção”, observa. “Pretendo reforçar a aquisição de obras pré-modernistas, mas isso fica para um segundo momento, pois nossa prioridade no momento é construir um museu para abrigar o acervo da fundação”, revela, anunciando o desenvolvimento de um projeto arquitetônico para a instituição ainda em 2019.
“Precisamos de uma área superior a 2 mil metros quadrados e pensamos num local nas entrada da Unifor ou mesmo fora dela, para democratizar ainda mais o acesso à coleção, pois atualmente ela fica acomodada na reitoria da universidade”. Criado em 1988 e instalado no câmpus, o Espaço Cultural Unifor, segundo Lenise, ficou pequeno para abrigar as exposições – e nele já foram montadas mostras antológicas de Rembrandt, Rubens e Miró, entre outros artistas históricos europeus. “Ayrton deixou algumas orientações e seguimos as diretrizes por ele traçadas”, conta Lenise. “Organizamos, por exemplo, exposições em Lisboa e Roma com 76 obras modernistas”, cita.
O colecionismo foi uma das paixões do chanceler Ayrton Queiroz, que tinha em sua coleção particular obras de mestres impressionistas (Renoir), surrealistas (Chagall) e modernos brasileiros – ele reverenciava o cearense Antonio Bandeira (sua primeira aquisição, aos 15 anos). Teve também a preocupação de divulgar a arte do Ceará em outros Estados, como comprova a exposição de Raimundo Cela realizada em 2016 no museu da Faap, em São Paulo, com patrocínio de uma das empresas da família Queiroz.
O desafio de sua sucessora, agora, é continuar a obra ousada do irmão, que chegou a adquirir a coleção de livros de arte que pertenceu a Ciccillo Matarazzo, idealizador da Bienal de São Paulo, para enriquecer a biblioteca da fundação, que tem 8 mil volumes raros datados desde o século 15. A coleção particular do chanceler Ayrton Queiroz não foi incorporada à fundação após a sua morte, mas a maioria dos artistas que escolheu pessoalmente estão representados no acervo maior que criou para a instituição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.