Muito bonito este filme sobre Roberto Burle Marx, nosso maior paisagista. Se o objetivo de Burle Marx era a beleza e a valorização da flora nacional, o documentário de João Vargas Penna amolda o filme à perspectiva do biografado. Passeia sua câmera pela infinidade de jardins desenhados pelo autor mundo afora e ressalta, sem qualquer estridência, as noções de paz e harmonia escritas com o verde das plantas e o colorido das flores.
Para construir sua arte, Burle Marx servia-se dos elementos vegetais como um pintor utiliza suas tintas e o compositor, as notas musicais. São seus materiais de construção. A “voz” de Burle Marx, contando sua vida e suas ideias, é entonada por Amir Haddad e, a par das imagens, e do som nunca óbvio do Grivo, compõe o perfil de um personagem fascinante.
A parte final de Filme Paisagem muda de tom e expressa a preocupação de Burle Marx com a destruição da natureza no Brasil. A predação ganha forma simbólica com a inauguração da Transamazônica, a estrada que era orgulho dos militares da ditadura. Para marcar a inauguração da estrada, cortaram uma árvore centenária de 60 metros de altura e afixaram no toco remanescente uma placa comemorativa em metal. Gesto simbólico do modelo predatório de desenvolvimento seguido pelos governos seguintes – militares ou civis.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.