Quando ele cavava o buraco, recebeu a ordem para cavar outros dois em um cemitério de Goiânia. Lado a lado. Horas depois, ajudaria sepultar pai, mãe e filha, uma criança de dois anos. A família morreu em um acidente durante um final de semana maio.
Quando chegou em casa, abriu uma garrafa de 51 e bebeu inteira. No dia seguinte, não queria mais saber do cemitério em que trabalhava havia cinco anos. “Eu queria me matar”, conta. “Eu nunca tinha bebido. Minha mulher ficou desesperada”. Ele não conseguiu ajuda para se tratar de um problema comum entre coveiros: a depressão.
Por sorte, ele conseguiu escapar da tristeza melancólica do dia a dia e, agora, comemora uma decisão que pode pôr fim à angústia de não saber quando vai se aposentar.
Vereados que compõem a Comissão de Constituição e Justiça (CJ) derrubaram o veto do prefeito de Goiânia Iris Rezende Machado (MDB) nesta quarta-feira (21/11) que concedia aposentadoria especial para coveiros municipais.
O veto do Executivo à emenda no projeto da reforma no Instituto de Previdência dos Servidores Municipais (IPSM) é da autoria da vereadora Sabrina Garcêz (PTB), que preside a comissão.
Pelo menos 60 coveiros atuam em Goiânia
Ela destacou o serviço que os 70 coveiros nomeados em cargo público desempenham um serviço essencial à sociedade e trabalham em ambiente insalubre, além da falta de “equipamentos de segurança e péssimas condições, tais como, falta de um banheiro que possam usar antes de irem para suas casas e um local apropriado para fazerem suas refeições”.
O relator, vereador Delegado Eduardo Prado (PV), que fez relatório pela derrubada do veto, esclareceu que já existe uma súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal (STF) concedendo a aposentadoria diferenciada para os coveiros em todo o país e que foram aprovadas emendas favorecendo duas categorias: a dos coveiros e a dos guardas metropolitanos e apenas a dos coveiros foi vetada.
A matéria segue para o plenário para votação. Caso o veto seja derrubado, a Câmara Municipal de Goiânia sanciona a lei.
“Se a gente recebe insalubridade é porque tem risco. Isso quando removemos restos mortais, encontramos verme e fungos. Corremos riscos com mortos que faleceram com doenças contagiosas. Não podemos deixar a família desamparada”, lembra um coveiro.
“E ainda sofremos discriminação. Quando falamos que somos coveiros, as pessoas rejeitam. A gente não é reconhecido pela Prefeitura. A gente enterra uma pessoa, no dia seguinte ficamos mal. É triste enterrar uma criança, por exemplo. Não temos reconhecimento nem com assistência com um psicólogo nem financeiro”, reclama.