A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, disse em entrevista ao jornal Daily Mail que a proposta de seus opositores para o acordo de saída da União Europeia, referente a como evitar uma fronteira “dura” entre a República da Irlanda, membro da União Europeia, e Irlanda do Norte, membro do Reino Unido, não resolveria o problema. May disse também que o chamado “mecanismo de proteção”, que garante a livre circulação de pessoas, bens e serviços entre os dois países, só poderá ser encerrado por meio de um “consenso mútuo”.
O acordo a que chegaram negociadores britânicos e europeus na última semana prevê o estabelecimento de uma união aduaneira entre Grã-Bretanha (Inglaterra, País de Gases e Escócia), Irlanda do Norte e os países do bloco europeu, onde está a República da Irlanda, caso não se chegue a um consenso até a data marcada para o Brexit, 29 de março. A medida foi sugerida por May como alternativa à proposta da União Europeia, de manter a Irlanda do Norte (que pertence ao Reino Unido) sob o bloco se não houver acordo até o fim de março. A ideia, nas duas propostas, é evitar o retorno do controle de mercadorias e pessoas na fronteira entre as Irlandas, que foi suspenso em 1998. O documento precisa ser aprovado pelos Parlamentos britânico e europeu.
“As pessoas dizem ‘se você apenas fizer algo levemente diferente, adotar o modelo da Noruega ou o modelo do Canadá, essa questão desapareceria’. Não desapareceria. A questão continuará lá”, disse May na entrevista publicada neste sábado. “Alguns políticos ficam tão envolvidos nas complexidades de seus argumentos que esquecem que não se trata dessa ou daquela teoria”, acrescentou ela.
Na última semana, o debate em torno do acordo levou ministros a se demitirem, enquanto críticos conservadores trabalham para derrubar May do cargo logo após o Reino Unido fechar o acordo. Um dos opositores da proposta de May, Mark François, diz que o acordo deixaria o país com o pior resultado, “metade dentro e metade fora” da União Europeia, e que nunca passaria pelo Parlamento com sucesso. Conservadores pró Brexit argumentam também que os estreitos laços comerciais entre o Reino Unido e UE exigidos no acordo tornariam a Grã-Bretanha um Estado submisso.
Parlamentares que condenam o texto dizem que conseguirão as 48 “cartas de não confiança” necessárias para que seja convocada uma votação no Parlamento sobre a permanência de May no cargo, dentro das regras partidárias britânicas. Até agora, mais de 20 legisladores disseram publicamente que enviaram tais cartas. Por outro lado, a mídia britânica tem informado que vários conservadores pró Brexit, incluindo o líder da Câmara dos Comuns, Andrea Leadsom, estão trabalhando para renegociar o acordo e torná-lo mais aceitável para eles. (Clarice Couto – [email protected], com Associated Press)