Um dia após o viaduto na Marginal Pinheiros ceder e ter risco de desabamento constatado, a zona oeste de São Paulo sofreu com uma série de transtornos. Com a pista expressa bloqueada, o trânsito da região ficou carregado nesta sexta-feira, 16, mesmo fora do horário de pico. Parte da circulação de trens também foi interrompida e provocou atrasos para usuários, muitos deles pegos de surpresa.
Às 10 horas, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) interrompeu a circulação entre as Estações Pinheiros, Villa-Lobos-Jaguaré, Cidade Universitária e Ceasa, todas da Linha 9-Esmeralda. A medida foi adotada após pedido da Prefeitura, uma vez que o viaduto que apresentava risco de cair passa sobre os trilhos. No trecho, os usuários tiveram de usar os ônibus do Paese, da SPTrans.
Por volta das 13h45, a diarista Cristina Martins entrou na fila do Paese, organizado do lado de fora da Estação Pinheiros. Queria voltar para casa, em Osasco, na Grande São Paulo. “Já estou levando mais de meia hora para chegar do que o normal”, disse. “Tem de relevar um pouco porque é uma questão de segurança, mas acaba atrapalhando muita gente.”
Embora não fosse horário de maior fluxo, os coletivos saíam cheios, com usuários em pé. Bem ao lado da fila do transporte, pedreiros trabalhavam na obra de uma lanchonete, manuseando soldas e serras. Por causa dos ruídos, os passageiros tapavam as orelhas com as mãos. “O pior é este barulho insuportável”, reclamou um fiscal da CPTM.
De folga, a vendedora Grazielle Gonçalves, de 26 anos, tomou um dos ônibus na Estação Ceasa. Planejava ir ao Parque Villa-Lobos, mas acabou passando do ponto e só descendo em Pinheiros. “O motorista não informou nenhuma parada, o ônibus está lotado não tem como ficar avisando a ele”, disse. Ela teve de pegar outro coletivo no sentido contrário. “É uma falta de respeito muito grande. A gente pagou pela passagem e é punido. É como se a culpa fosse nossa.”
“Fui pego de surpresa”, contou a usuário Roberto Santos, de 26 anos. Próximo a ele, a aposentada Angelita Conceição, de 65, estava prevenida. “Eu vi pela TV que estava interditado, então sai de casa preparada”, disse. Ela estava passeando com os netos Lucas Rocha, de 10 anos, e Isabelly Correia, de 7. “Não tenho hora marcada, então para mim está tranquilo.”
Às 17 horas, a fila na Estação Ceasa para pegar o Paese se esticava por mais de 100 metros na calçada, mas andava rápido. Entre o fim da fila até subir no coletivo, não demorava mais do que 5 minutos. “Na estação está pior. Subir a escada foi um sacrifício, tem muita gente”, comentou a auxiliar de arquivo Carla Daniele, de 37 anos, que voltava do trabalho em Osasco. “Aqui, é a primeira vez que vejo um tumulto assim”, disse o colega dela Bruno Moura, de 26.
A diarista Anita Lima, de 65 anos, não escondeu a irritação. “Eu não esperava passar por isso, não sabia que estava sem trem”, disse. “E a gente ainda corre o risco de ir em pé.”
Pouco movimento
No Parque Villa-Lobos, na zona oeste, barracas de comida e brinquedos estavam sem fila e era possível andar tranquilamente pela área de lazer, apesar de muitos paulistas estarem de folga. “O movimento está muito fraco”, comentou um vendedor de coco.
Para curtir o feriado, o mecânico Wagner Carvalho, de 41 anos, foi ao parque con a mulher Bruna Braga, de 26, e os filhos Arthur, de 6, e Edgar, de 3. “A gente levou mais de duas horas para chegar aqui por causa do trânsito. Normalmente, faço este trajeto em 25 minutos”, disse Carvalho, que saiu de carro do Jardim Ângela, na zona sul. “Uma hora eu desisti da Marginal do Pinheiros e vim por um caminho maior, por dentro.”
“O parque está mais vazio do que o normal. Imagino que quem não viajou no feriadão ficou com receio de vir por causa do viaduto que cedeu”, disse o administrador Marcos Oliveira, de 45 anos, que mora no bairro da Lapa e não ficou preso no trânsito. “Acho que vai ficar ruim de verdade a partir de quarta-feira, quando a cidade voltar ao normal.”
No vizinho Shopping Villa Lobos, lojistas disseram não ter sentido impacto negativo no volume de clientes. “A maioria vem de carro, então até aumentou o movimento por causa do feriado”, comentou o vendedor Cleber Santos, de 28 anos. Morador de Carapicuíba, na Grande São Paulo, ele teve de pedir carona a um amigo para chegar ao trabalho. “Eu dependo de transporte público, não ia conseguir chegar.”
Usuário da CPTM, o vendedor Guilherme Lenovo, de 22 anos, chegou 40 minutos atrasado no quiosque onde trabalha. “O trânsito estava muito carregado, então fiz o trajeto da estação ate aqui (cerca de 2,5 quilômetros) a pé.”
Feirantes da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) também sofreram com os transtornos. Vendedor de repolho, alface e coentro, Samuel Faho contou que a mercadoria atrasou para chegar. “As folhas vem de Ibiúna, no interior. Era para chegar às 12 horas, mas o caminhão ficou preso no trânsito e só conseguiu encostar duas horas depois.”
“Todo caminhão que vem da região de Piedade ou Ibiúna passa por ali. Muita gente se prejudicou”, relatou o feirante José Maciel. Entre os vendedores, a maior reclamação era que a clientela estava em falta. Para eles, no entanto, não era culpa do viaduto: “Todo feriado, o movimento cai demais.”