Na noite de 25 de abril de 1926, o maestro Arturo Toscanini interrompeu a orquestra durante uma apresentação no Scala de Milão e virou-se para a plateia. “Aqui termina a ópera, pois neste ponto o grande compositor estava morto.” Toscanini deixou, então, o palco – e encerrava-se assim a estreia de Turandot, de Giacomo Puccini. A morte do autor, mais de um ano antes, deixou a ópera incompleta, justamente antes que ele pudesse escrever sua cena final, um grandioso dueto para o qual tinha planos ambiciosos. Mas isso não impediu que Turandot (que seria completada por Franco Alfano) se transformasse em uma da mais importantes e queridas óperas do repertório, com árias famosas, como Nessun Dorma.
Turandot volta esta semana ao Teatro Municipal de São Paulo. A nova produção é assinada pelo diretor André Heller-Lopes e pelo maestro Roberto Minczuk, que comandam uma equipe de cerca de 200 artistas, entre eles solistas como as sopranos Elisabeth Blancke-Biggs e Annemarie Kremer, no papel título, os tenores David Pomeroy e Eric Herrero (Calaf) e as sopranos Gabriela Pacce e Marly Montony (Liù).
Turandot é uma ópera que se passa na China, escrita por um compositor italiano, que, entre suas fontes, teve um dramaturgo alemão. “Puccini é, com certeza, um representante da tradição italiana, mas, ao mesmo tempo, um compositor que conhece as óperas de Wagner, de Strauss, Stravinsky, Ravel e, em especial, Debussy”, diz Minczuk, acrescentando mais ingredientes na mistura. “Apesar da questão da realidade dramática, ele soa aqui para mim como um italiano impressionista.”
A ópera narra a história da princesa chinesa que, em memória de uma de suas ancestrais, morta por um estrangeiro, coloca três enigmas a todos os pretendentes de fora que a procuram para se casar. Incapazes de resolvê-los, eles são decapitados – até que um deles, Calaf, é bem-sucedido. Ele, então, inverte o jogo – se ela descobrir o nome dele, estará liberada do compromisso; e ele perderá a vida.
“Turandot e Calaf são traumatizados pela vida. Ambos têm de enfrentar e vencer enigmas para viver o amor”, diz Heller-Lopes. “Há vencedor? Ela se entrega não ao dominador, mas ao amor. Ele conta o segredo de seu nome e coloca sua vida nas mãos dela. O centro nervoso da ópera é esse enigma de amadurecimento e do encontro da paz interior que leva ao amor livre de barreiras.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.