Lourenço Mutarelli tem uma ligação antiga com o Sesc Pompeia – são anos e anos e dezenas de oficinas de trabalhos artísticos, na literatura e nas artes visuais. O espaço agora rende uma homenagem ao artista ao abrir a exposição Meu Nome Era Lourenço, nesta terça-feira, 13, com uma apresentação musical do curador Manu Maltez e com a presença do autor. Às 20h.
São 147 peças originais e 21 cadernos – que Mutarelli considera o elemento central da exposição. Nos moleskines de capa mole, o autor do recente O Filho Mais Velho de Deus (Companhia das Letras) libera o seu processo criativo numa mistura de texto e imagens, guiada pelo senso estético livre que sempre foi característica de seu trabalho.
Para a exposição, Mutarelli fez um painel de dois por três metros, uma colagem gigante inspirada em O Filho… e também na sua própria biografia.
A colagem, aliás, aparece várias vezes na mostra, e, segundo o próprio, tem se mostrado com mais frequência em seu trabalho nos últimos tempos.
Esboços mais recentes de seu próximo projeto, que ele chama de O Livro dos Mortos, também encampam o método – mas não só: a partir de algumas colagens próprias, ele pinta telas com acrílica, e pretende, inspirado nelas, escrever “histórias que não posso contar”. Algumas das telas estão expostas ali.
“Todo ano eu preciso experimentar alguma coisa, ir para um lugar que eu não conheço, e ultimamente fiquei fascinado com a colagem”, diz o autor. “Como eu faço as pinturas a partir delas sem esboço, se cria uma apropriação.”
Dois bonecos feitos por Gigi Manfrinato – um macaco e o personagem Diomedes – ganham esculturas, e o artista Joaquim Almeida também elaborou “máscaras” inspiradas nos desenhos de Mutarelli, que pintou as reproduções. Dentro delas, com uma lente de aumento posicionadas nos olhos, o visitante pode vislumbrar reproduções das artes originais.
“O desenho é próximo da escultura, dá vontade de levar para outra dimensão”, diz o curador Manu Maltez, que se colocou o desafio de ocupar o espaço das oficinas do Sesc Pompeia com os trabalhos de Mutarelli. “O trabalho dele apresenta com recorrência esses rostos distorcidos, pensei em entrar por aí e trazer para uma dimensão maior. O ‘olhar para dentro’, presente na obra, é representado com o ato de olhar dentro das cabeças, onde estão os desenhos.” O elemento “proibido” da obra do escritor também é representado por gavetas que “escondem” alguns trabalhos.
Entre outros objetos, estão ainda na exposição originais de quadrinhos – inclusive um raro sobrevivente de Transubstanciação (1991) -, fotos e painéis relacionados aos livros e filmes.
O envolvimento com o Sesc faz Mutarelli se preocupar com especulações de que o Sistema S poderia ser alterado pelo governo eleito em detrimento das iniciativas culturais. “É horrível. Eu nasci em 1964. Esses dias, num boteco no centro, fui pego por uma tristeza de poder reviver isso”, diz. “O Sesc é o meu ganha-pão. Vivo das oficinas.”
MEU NOME ERA LOURENÇO
Sesc Pompeia.
Rua Clélia, 93. De 14/11 a 29/2/2019. 3ª
a 6ª, 10h às 21h30; sáb., dom. e fer., 10h às 18h. Grátis.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.