O vereador Kleybe Morais (PSDC) é investigado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) e pela Polícia Federal (PF) sob suspeita de compra de votos para a campanha de 2016 e de ter se aproveitado de influência na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia (Sedetec).
Apuração de dois meses do Portal Dia Online indica que o parlamentar teve acesso a dados de funcionários comissionados com contratos prestes a vencer na Secretaria Municipal de Educação (SME).
Os documentos que ligam o vereador a esquema, revelam que ele prometia renovação de contrato e novas contratações para 2017, após as eleições. Kleybe foi o 15° mais bem colocado na eleição para a Câmara Municipal de Goiânia, com 5,818 votos.
Pelo menos 690 pessoas compareceram a reuniões no Palácio do Comércio, em frente ao Jóquey Clube, na Avenida Anhanguera, e em escritórios instalados em regiões de Goiânia. Os encontros ocorreram entre os dias 23 de agosto e 17 de setembro de 2016.
Servidor do setor de concurso e contrato trabalha no gabinete do vereador
Priscila Alves da Costa conseguiu uma vaga como comissionada em uma escola municipal depois que a mãe dela, Maria Helena Priscila Alves, soube que um candidato estava conseguindo “emprego”.
Maria foi ao Palácio do Comércio e ouviu do vereador explicações de “como preencher o documento”. O emprego, contudo, seria para Priscila, que preencheu o formulário com o número do título de eleitor, setor que gostaria de trabalhar e quantidade de votos que conseguiria para Kleybe.
“Eu não sabia que ele tinha pretenção de comprar voto”, diz Maria. “Eu nem votei nele. Não voto em gente que faz essas coisas”, completa.
Dois tipos de documentos utilizados pela Prefeitura de Goiânia foram utilizados pelo vereador. Um, seria a garantia para renovação de contratos, o outro para o Processo Seletivo Simplificado 2017/001, para a Secretaria Municipal de Educação (SME), mesmo com concurso público em vigência.
O parlamentar trabalhou como analista da Sedetec e teria, segundo o ex-cabo eleitoral, conseguido a listagem de comissionados com contratos prestes a vencer e informações sobre o Processo Seletivo. Para o Portal Dia Online, o vereador nega. “Não tem nenhuma assinatura minha e não sei do que você está falando”, disse.
A reportagem descobriu, ainda, que Nélio Coelho Guimarães, servidor do Departamento de Concurso e Seleção na época da eleição, atualmente está à disposição do gabinete número 10 do vereador, na Câmara Municipal de Goiânia.
Procurado, Nélio assumiu que tinha acesso aos processos de Seleção, como vários outros servidores, mas nega que tenha se aproveitado disso para beneficiar Kleybe Morais. “Não repassei nenhum documento, nenhuma informação”, disse para a reportagem, na tarde desta terça-feira (13/11).
Concurso que nada…
O período das reuniões do vereador e sua equipe no Palácio do Comércio coincide com o cronograma do concurso Edital 001/2016 para a Educação de Goiânia, publicado no dia 22 de março de 2016 e homologado em 29 de setembro do mesmo ano.
“Foi tudo articulado para que ele encaixasse pessoas dentro da Secretaria Municipal para honrar os votos”, conta uma das pessoas que conseguiram votos, mas não o prometido emprego. “O vereador não honrou comigo, mas agora percebo que isso era pura sujeira”, assume.
Ainda conforme o ex-cabo eleitoral, o vereador afirmava nas reuniões que colocaria pessoas no lugar de concursados. “Ele amenizava a preocupação das pessoas quanto ao concurso.”
O Processo Seletivo Simplificado 001/2017, prometido pelo então candidato a vereador durante o período eleitoral durante próximo à eleição de 2016, aparece em conversas pelo WhatsApp, em que o vereador cita uma ficha de inscrição para um Processo Seletivo enquanto conversa com um de seus apoiadores.
MPGO pede que PF investigue Kleybe Morais
A 44ª Promotoria analisou os documentos que indicam captação ilícita de sufrágio, mas arquivou porque o vereador já foi diplomado. Ou seja, não seria possível ajuizamento de Ação de Investigação Judicial Eleitoral. O MP, então, enviou ofício para a Superintendência Regional da Polícia Federal para investigar a prática de crime eleitoral.
A Polícia Federal não quis comentar. “Está sob sigilo”, resumiu o assessor de imprensa.
O vereador classifica as denúncia de perseguição de quem não conseguiu emprego. “A PF foi no Palácio do Comércio e não encontrou nada. Essas denúncias surgiram de pessoas que tinham expectativa em relação à campanha, dentro do gabinete, mas que não tinha perfil administrativo para trabalhar com a gente. Estou tranquilo”, diz. “Procure o Ministério Público e a Polícia Federal. Você sabe mais do que eu, daqui a pouco eu que vou te fazer perguntas”, ironizou.
“Para mim, você é uma caricatura de jornalista”, disse o vereador, antes de desligar a ligação, sem responder à pergunta: “o senhor não acha comprometedor ter escolhido para o seu gabinete um funcionário do departamento de concursos e de seleção?”
O presidente da Câmara Municipal de Goiânia, o vereador Andrey Azeredo, informou ao Portal Dia Online que espera uma denúncia formal para tomar medidas cabíveis. “Vamos analisar, sem qualquer precipitação. Trabalho com fatos”, disse. “É preciso analisar se houve alguma conduta inadequada, inclusive sobre o servidor à disposição no gabinete do vereador.”