Gislaine de Sousa de Oliveira Rezende, 45 anos, decide falar pela primeira vez sobre a filha, Géssika Sousa dos Santos, de 27, dez dias depois de o corpo dela ter sido encontrado dentro de uma caixa de papelão, na Praça do Trabalhador, em Goiânia, no dia 30 de outubro.
Géssica foi encontrada por volta de 5h da manhã, amarrada com fios e enrolada em um lençol. Em vídeos que circularam pelo WhatsApp, um homem abre a caixa com um pedaço de madeira, enquanto pelo menos dez pessoas filmam.
“Não tive coragem de reconhecer o corpo, nem assistir o vídeo. Nunca mais vi minha filha porque o caixão foi lacrado”, conta Gislaine ao Portal Dia Online.
Segundo um morador de rua contou para a Polícia Civil, dois homens abandonaram o corpo de Géssika a pouco mais de 300 metros da Rodoviária. Em seguida, um terceiro teria deixado a moto Fazer azul, ano 2007, ao lado da caixa com a vítima dentro.
Pouco ou nada se conhecia de Géssika, transformada em um corpo em exposição. Abandonada por volta de 1 da madrugada, o corpo da jovem foi revirado primeiro por curiosos, depois por peritos, que buscavam qualquer informação que revelasse a identidade dela.
Sem documentos, o número da placa foi utilizado por policiais militares para levantar a hipótese de que, pelo menos, sabiam quem era a mulher.
Com as notícias divulgadas pela imprensa, um irmão da jovem ligou para Gislaine. “Como minha filha tinha desaparecido na segunda-feira cedo, falei para ele ir lá com meu marido. Eu sentia que poderia ser ela”, conta. Era Géssika.
Antes de ter o corpo abandonado no Centro de Goiânia, vítima foi espancada
Gislaine não quer nem imaginar a violência que a filha passou. Segundo a perícia, Géssika foi brutalmente espancada, esfaqueada e ainda teve parte de dedos arrancados.
Mas poucos sabem que Géssika deixou duas filhas criadas pela avó há três anos. Uma de 7 anos e outra de 11. “A caçula nunca mais falou na mãe. Parece não se lembrar, mas mudou o comportamento. Ficou mais custosa”, conta Gislaine.
As meninas sentem falta da mãe, que ligava, enviava áudios e fotos pelo WhatsApp, nos intervalos do trabalho que conseguiu em uma vaga destinada para Pessoas com Necessidades Especiais (PNE), no Pão de Açucar. Géssika nasceu sem a visão do olho esquerdo. Visão monocular, definiriam oftalmologistas.
A deficiência nunca limitou a mulher encontrada morta dentro de uma caixa em um dos lugares mais movimentados de Goiânia. Ela sempre trabalhou, prestou vestibular para Direito na Fasam, cursou dois semestres, mas há um ano e meio desistiu. “Ela não conseguia conciliar a faculdade com a rotina do trabalho”, lembra Gislaine.
Feliz
Em suas folgas às quartas-feiras, a mulher não deixava de passar na casa mãe para ver as meninas. “Ela passava aqui e voltava para a casa dela, sempre muito feliz.”
Mais velha entre três filhos de Gislaine, Géssika não demonstrava que estava passando por algum problema. “Ela tinha sido promovida no trabalho. Ela gostava muito de trabalhar com o computador e ia sair do cargo de fiscal de loja. Ela disse que não ia mais ficar na loja, mas no escritório.”
No domingo (28/10) ela foi ver as filhas, mas não encontrou ninguém. “Eu tinha ido para minha sogra. E a gente se falou pelo telefone. Pedi para ela ir, mas não quis”, recorda. No mesmo dia, Géssika foi trabalhar. Na segunda-feira, saiu cedo e não foi mais vista com vida.
Na terça-feira, dia em que o Centro de Goiânia amanheceria misterioso, com o corpo em uma praça, a família tinha uma hipótese para o sumiço.
Gislaine relembra que, 7 meses antes de ser assassinada, Géssika sofreu um grave acidente. “Ela saiu da minha casa e bateu a moto em um carro. Ficou muito machucada. Quebrou o maxilar, os dentes e ficou com problema na mão. Ela veio aqui para casa e eu cuidei dela.”
A moto abandonada ao lado de Géssika foi comprada com o seguro do primeiro veículo que ficou destruído. “Ela sempre pensava em tudo. Depois do acidente, ela achou que ia morrer e chegou a fazer um seguro de vida. Não imaginou que morreria dessa forma, mas deixou as filhas amparadas.”