Utica, no Estado de Nova York, passou 70 anos sem receber a visita de um presidente. Em agosto, Donald Trump viajou à cidade para fazer campanha para a deputada republicana Claudia Tenney, rival do democrata Anthony Brindisi. A região que elegeu Trump com 16 pontos porcentuais de vantagem, em 2016, pode se tornar hoje símbolo de uma “onda democrata” que dará ao partido o controle da Câmara dos Deputados.
Em Utica, a polarização é visível. “Sou um republicano e apoiei Trump desde o princípio”, diz o pequeno empresário James Colomb. “Trump faz um trabalho muito bom.” A campanha da republicana Claudia Tenney colou na imagem do presidente. No sábado, ela teve o reforço da porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, para engajar a militância.
Sob garoa fina e 5ºC, apenas os voluntários – republicanos e democratas – saíram às ruas, entrando e saindo de comitês de campanha. Para Colomb, o tema central da campanha é a economia, a redução de impostos e a criação de empregos – principais plataformas de campanha do presidente.
Utica é uma das 42 cidades de Nova York que viu a população diminuir entre 2010 e 2017, diante de estagnação econômica semelhante ao que ocorreu no chamado Cinturão da Ferrugem. Na cidade, 31% da população é considerada pobre, segundo o Censo dos EUA – mais do que o dobro da taxa nacional (12,3%).
O Cinturão da Ferrugem, essencial para eleger o republicano em 2016, é outro teste para Trump. Em artigo no New York Times, Timothy Carney, autor de Alienated America, diz que Trump não conseguiu resolver os problemas sociais da região, o que pode fazer com que ele perca o apoio. “Os eleitores do Cinturão da Ferrugem declaram uma profunda insatisfação, que persiste mesmo em tempos econômicos bons, porque está fundamentada em algo cultural e local: o colapso da comunidade.”
O candidato democrata, Anthony Brindinsi, rejeita ser antiTrump. “Somos pró-povo”, afirmou. Para o jamaicano Damian Ffrench, que trabalha em empresa de seguros de saúde e vive no país há quase 30 anos, é preciso renovar a Câmara. “Os republicanos deixam Trump fazer o que ele quer. Sou o único negro no meu trabalho. Antes de Trump, as pessoas não ousariam te odiar na sua cara”, afirma, em referência à retórica agressiva do presidente americano.
Riscos
Nas eleições de hoje, os americanos renovarão todos os 435 deputados – o mandato nos EUA é de dois anos -, 35 dos 100 senadores e 36 dos 50 governadores. De acordo com pesquisas, os democratas são favoritos para retomar a maioria na Câmara, mas os republicanos devem manter o controle do Senado.
Trump trabalha até o último minuto como cabo eleitoral do partido, porque perder a Câmara significará turbulência na segunda metade de seu mandato, já que, se os democratas obtiverem a maioria dos deputados, encabeçarão as comissões de investigação – no momento em que o presidente tenta se esquivar das acusações de conluio com a Rússia para interferir nas eleições de 2016.
No Senado, a situação de Trump é mais confortável. Os republicanos devem manter a maioria, já que das 35 vagas em disputa, apenas 9 são de senadores republicanos – as outras 24 são de democratas, a maioria eleita em 2012, durante mandato de Barack Obama.
O voto não é obrigatório nos EUA. Por isso, o grande desafio de ambos os partidos é incentivar seus eleitores a votar. Por isso, a economia americana, que normalmente seria um fator positivo e tema da campanha republicana, perdeu espaço para a imigração – um assunto muito mais emocional.
O presidente foi sincero na sexta-feira, em comício feito no Estado de Virgínia Ocidental. “Todo mundo pede para eu falar sobre a economia”, disse Trump. “Temos hoje a melhor economia de toda a história dos EUA. Mas falar de economia muitos vezes é muito chato. Que tal falar sobre a caravana?”, continuou o presidente – em referência à marcha de 7 mil imigrantes da América Central que se aproxima dos EUA.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.