Prestes a desembarcar pela primeira vez no Brasil com a sua banda, o Deerhunter, Bradford Cox está meio nervoso e meio deprimido. Conhecido pelas entrevistas e performances mais ou menos incomuns, o vocalista, músico e compositor disse na última segunda-feira, 29, à reportagem, que estava num dia ruim, questionando-se sobre o próprio fazer artístico. “Eu só quero ficar sozinho com o meu cachorro”, dizia em um momento. Em seguida, reforçava sua vontade antiga de vir à América do Sul. “Tentamos tantas vezes e nunca deu certo. Agora vai.”
O Deerhunter é uma das atrações do Balaclava Fest, neste domingo, na Audio (Av. Francisco Matarazzo, 694), em São Paulo, com abertura da casa às 16h.
Os outros nomes no line-up são: Warpaint, Mercury Rev, Barbagallo (projeto do baterista do Tame Impala, Julien Barbagallo), Metá Metá, Jaloo, Marrakesh e Moons. Os ingressos podem ser adquiridos no local e custam R$ 280 (ou R$ 140 a meia entrada).
Essa é a oitava edição do festival produzido pelo selo paulistano Balaclava, que já trouxe nomes queridos do indie internacional, como Mac DeMarco e Slowdive e Future Islands.
Embora o Deerhunter seja comumente associado ao gênero, Cox rejeita a aproximação – uma mistura de David Bowie, punk experimental e dream pop talvez definisse melhor sua arte. “Sempre achei que o indie rock fosse uma estética preguiçosa. Cresci nos anos 1980 e 1990, e acho que o que se tornou proeminente nessa época foram adolescentes que não cresceram, ficam reclamando sobre tudo, nem mesmo tentando, é uma atmosfera de reclamação sem solução, é uma coisa meio privilegiada”, desabafa. Mas ele mesmo concorda: “É uma generalização, não se pode levar muito a sério” – tanto o gênero quanto a sua própria avaliação dele.
Porque a ansiedade do cantor na ligação, sempre transmitida de forma doce, também se deve ao fato de que a banda, formada em Atlanta em 2001, faz um show pela primeira vez aqui. “Depois de tanto tempo, acho que as pessoas têm uma expectativa alta, não é?”. Essa expectativa é construída pela carreira de sete discos: o oitavo, Why Hasnt Everything Already Disappeared?, sai no dia 18 de janeiro de 2019.
O álbum foi liberado para audição de jornalistas no início da semana, mesmo dia da entrevista. Com uma trajetória inquieta, o Deerhunter ficou conhecido por variar sentimentos e sons entre os discos, sempre inspirados por uma certa estética punk (no sentido comportamental) e sonoridade baseada nos sintetizadores.
Fading Frontier, o aclamado álbum de 2015, situava a banda no cenário do dream pop atual, e o novo disco parece confirmar essa tendência (pouco antes, Cox havia feito sua estreia no cinema, no filme Clube de Compras Dallas).
A palavra “fade” (desvanecer), por exemplo, volta a aparecer na primeira canção do novo álbum, Death In Midsummer, liberada essa semana com um clipe. “É algo inconsciente”, diz Cox, sobre a recorrência da palavra, ou sobre a ideia de desbotar. “Mas as coisas eram mais feliz naquela época (do álbum anterior, três anos atrás). Tudo se tornou mais difícil. A sociedade está num lugar muito diferente, e eu não acho que seja um lugar bom. É óbvia a razão. Há muito ódio, muita gente infeliz que procura criar um desequilíbrio.”
Sua música, porém, nunca foi uma resposta automática para as situações cotidianas. “É uma reação mais visceral”, atesta.
Quando questionado se quer comentar a “situação Trump”, diz que a sociedade precisa de um insight que ele não pode oferecer – na divulgação do novo disco, porém, ele usa o termo ficção científica para tentar definir o que está fazendo.
“Quis usar um sentido pós-moderno, de desconstrução. Como se nos sentíssemos num tempo muito acelerado, com as coisas importando menos. É um problema psicológico com a cultura. De maneira geral, esse clima me rouba algo, como se fosse algo de Twilight Zone”, formula, citando a série dos anos 1950.
Apesar de chegar com as músicas novas na bagagem, o Deerhunter deve priorizar as canções de outros discos como Halcyon Digest (2010) e Monomania (2013).
BALACLAVA FEST
Audio. Av. Francisco Matarazzo, 694, São Paulo. (11) 3862-8279 Dom., 4/11. Abertura da casa: 16h. R$ 280 / R$ 140.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.