No palco do monumental Cine Odeon, em plena Cinelândia, as diretoras do Festival do Rio, Ilda Santiago e Walkiria Barbosa, não deixaram por menos. “Precisamos agradecer, e muito, à dedicação dos amigos e colaboradores, porque o festival esteve ameaçado de não sair. Se não fosse a corrente de solidariedade que se formou para tornar essa noite possível, não estaríamos aqui.” O Festival do Rio chega à sua 20ª edição mais enxuto, com menos filmes, mas dando à Cidade Maravilhosa o abraço que merece.
De quinta, 1º, até dia 11, serão cerca de 200 filmes – 100 a menos que na Mostra de SP. Ninguém consegue ver tantos filmes num tempo que é limitado. E o que não falta são os highlights. A abertura foi com o novo Steve McQueen, que não pôde vir, mas enviou uma mensagem. “Hello, Rio!” Como disse a representante da Fox do Brasil, As Viúvas “é outra história de mulheres poderosas, como essas duas”, referindo-se a Ilda e Walkiria.
Logo na abertura, uma perseguição resulta na explosão de uma van e na morte de um grupo de assaltantes. Viola Davis faz a ex-mulher de Liam Neeson. Passa a ser cobrada pelo dinheiro que o marido teria roubado, e no meio de uma acirrada disputa eleitoral. Viola reúne as viúvas dos demais integrantes do grupo original, e partem para um grande roubo. Sim, elas conseguem. Alguma dúvida? Conseguem como Ilda, Walkiria e os demais companheiros de colegiado conseguiram levantar o festival. O empoderamento na ordem do dia – no palco e na tela.
Não só mulheres, meninas poderosas. Neste fim de semana, a diretora indie Crystal Moselle estará no Rio para apresentar seu longa Skate Kitchen. O filme é uma produção da Bow + Arrow, Arco e Flecha, com a RT, Rodrigo Teixeira Features. Crystal invade com sua câmera o universo predominantemente masculino do skate. Acompanha uma garota que vem de uma família disfuncional e se integra a um grupo de jovens que, como ela, querem fazer parte desse mundo. O problema é que os garotos são, como se diz, “escrotos”. A protagonista pisa na bola, faz seu duro aprendizado de skate, e de vida. Sexo, drogas, skate e… rap. Som pesado, manobras radicais, mas, como diz Rachelle Vinberg, contracenando com Jaden Smith (o filho de Will), “existem momentos de dor em que a solidão parece que vai sufocar, e não importa que você esteja cercado(a) de gente.”
Crystal usa sua história para falar de família. O pai da garota negra não interfere no baseado dela e ainda faz comida para suas amigas. O que é a família, quando não está baseada em laços de sangue? Tem de ser fundada no afeto, no respeito. “Amigas não traem”, grita a garota que se sente usada, e desrespeitada.
Não é mera coincidência que justamente na sexta, 1º, o festival já tenha apresentado a primeira exibição do documentário El Pepe, que o grande Emir Kusturica dedicou ao ex-presidente uruguaio José Mujica. Depois da ficção – A Noite de 12 Anos -, o documentário. Mujica não é só o presidente que liberou a maconha, para uso medicinal, no Uruguai. Possui uma visão humanista do mundo. Kusturica ama seus biografados, Maradona, Pepe. Faz filmes apaixonados. Ame-os ou deixe-os.
O Festival do Rio tem dessas preciosidades. E onde mais você veria Caetano Veloso, anônimo, na sessão da meia-noite? Mais celebridade que qualquer um que tenha pisado no tapete vermelho do Odeon, Caetano preferiu ver As Viúvas na sessão da meia-noite, que se seguiu à abertura para convidados. Comprou ingresso e fez a fila.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.